A folia da mistura entre o carnaval e a literatura

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Allah-lá-ô, ô ô ô ô ô

Em tempo de calor o carnaval está aí, em cima da hora. Nestas vésperas,
tenho pensado que esta festa popular abraça a literatura de várias maneiras;
em todos os eventos carnavalescos, há narrativas que abrangem a natureza,
os lugares, os fatos atuais e passados, as celebrações e outras expressões
culturais. Seja por meio da ironia ou do enaltecimento, seja pela brincadeira, o
carnaval conta histórias.

Da mesma forma que a literatura revela, através de textos, nos estilos da
prosa e da poesia, as características sociais, culturais e políticas de um lugar, o
carnaval retrata as impressões de um povo sobre estas mesmas
características; ambos são manifestações dos modos de pensar, de sentir e de
reagir do escritor e do carnavalesco. Vale a pena ressaltar que o carnaval
reúne as artes: a música, a própria literatura, a indumentária, a dança, a pintura
e a escultura. A literatura abre alas para o carnaval passar e, por sua vez, o
carnaval abre as asas da imaginação e as portas para a pesquisa do escritor. A
literatura e o carnaval, um tem ao outro ao seu dispor para buscar ideias,
pesquisar e realizar suas obras.

Cuidado que a bruxa vem largando brasa no cachimbo da vovó!
Assim, ao som das marchinhas, o carnaval faz uma festa ardente, que
parece não ter fim. A vida explode nas ruas, através do movimento humano
intenso, enfeitado pelas fantasias e animado pelas danças carnavalescas. A
arte embeleza a cidade, os foliões de todas as idades, fazendo com que as
cores convidem a todos à folia.

Nova Friburgo, cidade especialmente festeira, é um lugar carnavalesco
por ser musical e literário em sua essência. David Massena, em seu livro Até
quarta-feira, chama a atenção para a natureza, que, por si só, produz sons
ritmados, além do que seus primeiros habitantes, os índios e os escravos, que
eram povos musicais. Como também os povos formadores da cidade que
trouxeram suas culturas, personagens e artes para estas terras altas, cercadas
de Mata Atlântica. Aqui, o carnaval faz o resgate da sua história nos desfiles
das escolas de samba. Será que é para matar as saudades? Para fortalecer os

sentimentos de pertencimento? Para contar, de modo orgulhoso, os feitos dos
nossos heróis e benfeitores?


Não posso deixar de pensar na contação de causos pitorescos e
carnavalescos que percorrem os bares, as esquinas e as praças. É a literatura
em sua forma oral que vai recontando a vida da cidade.
De todo o modo, o carnaval expressa a emoção e os modos de ser de
uma população, que sempre guarda com amor seus tantos heróis, batalhas e
vitórias.

TAGS:
Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.