Momentos Literários
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
Estou com o livro de David Massena nas mãos, Zuzu, editado em 2019 pelo autor, e belissimamente ilustrado por Rodrigo Macedo. Fazia tempo que queria escrever a respeito dessa obra, que aborda um tema que marcou o final de minha adolescência e o início da vida adulta: a incansável busca de Zuzu pelo seu filho Stuart Angel Jones, desaparecido, torturado e morto, na época da ditadura militar, bem como a trágica morte dessa mulher. Mesmo compreendendo que o momento histórico que vivemos hoje é outro, aqueles fatos tocaram uma geração e ainda me sensibilizam.
Ao pensar sobre o que abordar nesta coluna de final de ano, uma palavra tomou conta do meu processo de escrita, sandália. Eu me perguntei por que o ano de 2020 estaria relacionado com esta ideia e passei a manhã sem entender a relação, a princípio estranha. Eu me pus a pesquisar com serenidade e fui surpreendida com os significados que esta peça milenar do vestuário reúne.
Será que alguém já se perguntou por que Papai Noel usa luvas? Acredito que não seja apenas por questões de elegância, para compor o figurino e dar um toque de sobriedade, beleza e harmonia, principalmente as brancas, que tão bem combinam com o vermelho.
Hoje acordei pensando na relação entre árvores e livros por causa do convite que recebi da montagem e desmontagem da oitava edição da Árvore que dá Livros, que será realizado no Espaço Café da Usina Cultural Energisa, em 15 de dezembro.
Deixei minhas reflexões e sensações flutuarem sobre as possíveis relações entre o que a natureza gesta e o homem cria. Árvores e livros surgem através de nascimentos que precisam de fecundação e tempo de preparo.
A tragédia ou o canto ao bode
Na Grécia antiga, o divino iluminou as manifestações populares que expressavam a admiração pelo heroísmo e pelas divindades, narravam a origem do homem, os significados da vida, as aventuras, os infortúnios e os modos de viver. As práticas ritualistas possuíam caráter explicativo como meio de abordar os fenômenos naturais e mostrar os limites da ação humana, do amor ao ódio extremo.
Meus olhos se perderam pelo teatro de Pompéia, construído no século II a.C., e soterrado pelas cinzas do Vesúvio no século l d.C. Fiquei imaginando como seria o público, os habitantes de Pompéia e das cidades próximas. Sentada no palco, pensei nos espectadores que moravam distantes que, para assistir a um espetáculo no teatro, situado no alto do morro, precisavam percorrer um longo caminho, que podia ser trilhado a pé, no lombo de animais ou carroças, muito diferente da nossa ida ao teatro, que nele chegamos de modo confortável, perfumados, com roupa arrumada e cabelo ajeitado.
Em outubro fiz uma viagem à Itália, quando visitei algumas cidades ao centro-sul do país, a maioria litorânea. É um território banhado pelo mar Mediterrâneo, que ganha nomes diversos ao longo da costa, como Tirreno, Jônico, Adriático. É um mar de águas calmas e aquecidas por serem abrigadas e receberem o calor do deserto de Saara.
Eis uma interessante e misteriosa pergunta: onde está a literatura na cozinha? Será nos livros de receitas? Será nas aventuras culinárias que os livros de receitas estimulam? Ou será nos segredos que as paredes da cozinha guardam? Ah... é um mistério para os leigos, mas não uma questão para os mestres das letras. Na verdade, ouso até falar um pouco por eles, e que me perdoem se vou dizer asneiras. A literatura é a arte que se faz com palavras pesquisadas e cuidadas, e os alimentos são elaborados e feitos com ingredientes certos.