A pré-adolescência e a literatura

A pré-adolescência é a fase do crescimento humano, anterior à puberdade,
que ocorre a partir dos 10 ou 12 anos; é uma etapa de vida especialmente agitada e
instável. O pré-adolescente deixa de ser criança e vai amadurecendo por inteiro, a
começar pelo corpo que se modifica em todos os órgãos e vai adquirindo
compleição física. Suas reações emocionais se tornam intensas na medida em que
vai conquistando liberdade maior, tendo novas responsabilidades e construindo
expectativas mais ousadas. Torna-se exigente com tudo e com todos,
principalmente no modo como gostaria de ser percebido e considerado. Seu
relacionamento social ganha outras dimensões quando interage em novos
contextos e quando os valores são, por ele, reavaliados. Seu pensamento ultrapassa
os limites da percepção infantil e, assim, sente-se diferente a cada experiência. Com
essas tantas transformações, ele passa por processos de reconstrução da
identidade, que lhe causam ansiedade e insegurança. Ele, de fato, precisa de
amparo.

A literatura, através das histórias, pode lhe oferecer acolhimento.
Vendo-se, através dos personagens, o leitor pode refletir sobre suas
experiências, posicionar-se face as circunstâncias existenciais, muitas vezes
dolorosas e desafiadoras, haja vista que está vivendo no mundo concreto e
convivendo com as diversidades do existir. E são tantas! A cada instante, depara-se
com questões complexas e a principal é, quem sou? Buscando respostas, vai
conhecendo a si mesmo e o outro, apreendendo o ambiente e lidando com a
interminável quantidade de informações e solicitações.

Durante e depois da leitura, o livro de literatura pulsa no pensamento do
leitor que vivencia as histórias, podendo percebê-las como suas. Além do mais, a
leitura sempre estimula a reflexão sobre temas importantes, isto porque os
escritores sentem a vida; é essa sensibilidade que vai fazendo com que delineiem,
através de palavras, a vida em sua amplitude e intimidade. Vamos dizer, então, que
quem escreve literatura manifesta, com criatividade, um modo próprio de
perceber, sentir e pensar.

A literatura, assim, é resultante da sensível impressão do escritor, não mais
do que uma pessoa comum, sobre os fatos da vida. Desta forma, quando o jovem
está entretido num livro, pode perceber que o que vive está ali, escrito nas páginas,
e sendo experimentado pelos personagens. E, aí, está o acolhimento.
Sentindo-se acolhido, o leitor, seja de que idade for, compartilha a solidão do
sentir e do existir. Não é à toa que os leitores gostam de conhecer os escritores de
seus livros e ver os personagens no cinema ou teatro.

Independentemente da idade, sexo ou nacionalidade, todos têm a
necessidade de falar de si, da percepção que a cada dia constrói do mundo. A
literatura possibilita isto. O leitor, ao falar a respeito de uma história lida, fala
também de si, escuta outro leitor, conversa, debate temas. Interage culturalmente.
Aquele que aproveita a literatura sente, no seu quotidiano, o livro pulsar
como um coração, principalmente o jovem que se encontra em processo intenso de
descobertas e transformações.

“Dentro de cada um há o seu escuro”.
(Mia Couto)