A história e a memória. Na narrativa histórica, o pesquisador escolhe o objeto da pesquisa, faz um recorte temporal e espacial, define o conteúdo teórico, a metodologia e se debruça sobre as fontes da pesquisa. Após a leitura e a incansável análise das fontes, o historiador, utilizando uma base científica faz a narrativa reapresentando o passado. As universidades se ocupam da formação de historiadores-pesquisadores e dentro de suas linhas de pesquisa vão construindo a história nacional e geral. Mas quem se ocupa da memória? Muito poucos.
História e Memória
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
O Vale do Macacu foi uma das primeiras ocupações no Brasil Colonial com quase 500 anos de história. Era uma das mais importantes regiões agrícolas do Recôncavo da Guanabara. Nas primeiras décadas de ocupação, a extração da madeira foi a base de sua economia. A facilidade do transporte da madeira era proporcionada pelo Rio Macacu e seus afluentes, que desaguando na Baía da Guanabara, alcançava o porto do Rio de Janeiro.
A mansão da Vila Amélia tem um estilo muito parecido com a residência dos Galdino do Vale. Na residência uma imponente escada de pinho de riga com três lances de escadas. Na parede um vitral colorido, vindo da Europa, ocupa toda a altura da casa. Nos compartimentos, a sala principal, a copa, a adega e a cozinha com fogão à lenha e serpentinas que forneciam água quente para toda a casa.
Antônio Alves Pinto Martins, o “Seu Martins”, como era conhecido, adquiriu, em 1914, o imóvel da família Salusse, conhecido como Sítio do Relógio, propriedade com extensão de 667.749 metros quadrados. Explorando comercialmente a chácara, construiu o “Mercado Villa Amélia”, onde vendia laticínios como leite, queijo e manteiga, verduras, legumes, frutas frescas e em conserva, mel e linguiças defumadas.
Durante 50 anos, o palacete da Vila Amélia, de propriedade da Afape (Associação Friburguense de Pais e Amigos do Educando) foi alugado pelo governo do estado para servir como delegacia e carceragem de Nova Friburgo. Em 2013, após o Instituto de Criminalística Carlos Éboli ter condenado suas instalações, devolveu-o à Afape. Esse imóvel é reconhecido como patrimônio histórico e tombado provisoriamente pela prefeitura municipal.
A Fazenda Santana atualmente encontra-se na propriedade do médico Renato Monnerat que descende de um único tronco familiar dos Monnerat. A história de sua família remonta ao princípio do século 19, quando François Xavier Monnerat, sua esposa e sete filhos partiram da Suíça, chegando ao Rio de Janeiro em fevereiro de 1820.
A história da Fazenda Santana ganha importância em meados do século 19, com Augusto de Sousa Brandão, o segundo barão de Cantagalo. O seu pai, José de Souza Brandão, o primeiro barão, solicitou uma sesmaria, em Cantagalo, justificando ter posse e meios para cultivar. Falecido em 1857, do seu casamento com Josefa Maria de Souza Brandão teve seis filhos. Um deles Augusto de Sousa Brandão que se formaria médico e seria proprietário da fazenda Santana, recebendo o título de segundo Barão de Cantagalo.
Uma passagem curiosa ocorreu na fazenda Rancharia do Norte. José Constâncio Monnerat, sabedor da lei que extinguia a escravidão, montou a cavalo e foi até a plantação de café. O escravo cearense, Flauzino, mestiço de preto, branco e índio, procurava exercer a sua função de feitor mesmo sabendo do fim da escravidão. José Constâncio reclamou da morosidade na arrumação do café. O escravo Gregório, descansou o braço na enxada, olhou para o senhor e disse: “Olha Nhô, Nhô, vancê precisa vê que, agora, nós sêmo tão bom, como tão bom”.
Os irmãos Jean Joseph e Sébastian, ao ganharem dinheiro na vila de Nova Friburgo adquiram uma propriedade em Cantagalo, a fazenda Rancharia do Norte. Levaram toda a família para sua nova propriedade, ficando em Nova Friburgo apenas Ursanne Joseph, que parece ter se desentendido com Jean Joseph e Sébastian. A casa da fazenda Rancharia do Norte em que residiram era de pau-a-pique, construída aproximadamente em 1837. Os Monnerat se dedicaram à faina de tropeiros, transportando café e outras mercadorias de Cantagalo até Porto das Caixas, hoje município de Itaboraí.
Chegando a Fazenda do Morro Queimado foi reservada uma área específica para distribuir datas de terras aos colonos, denominadas de números. No entanto, a maioria das terras era incultivável. Somente uma minoria teve a sorte de receber terras relativamente boas. Mesmo produzindo, o acesso ao mercado era difícil, pois não haviam estradas ou picadas para chegar a vila de Nova Friburgo. Os colonos suíços ficaram isolados no núcleo colonial.