Fazenda Santana – Parte 1

quinta-feira, 16 de junho de 2016

A história da Fazenda Santana ganha importância em meados do século 19, com Augusto de Sousa Brandão, o segundo barão de Cantagalo. O seu pai, José de Souza Brandão, o primeiro barão, solicitou uma sesmaria, em Cantagalo, justificando ter posse e meios para cultivar. Falecido em 1857, do seu casamento com Josefa Maria de Souza Brandão teve seis filhos. Um deles Augusto de Sousa Brandão que se formaria médico e seria proprietário da fazenda Santana, recebendo o título de segundo Barão de Cantagalo.

Coronel da Guarda Nacional, exerceu as funções de delegado, juiz de paz, vereador e presidente da Câmara Municipal pelo Partido Liberal. O seu envolvimento com a política era significativo ainda que exercendo as atividades de médico e agricultor. No registro paroquial exigido pela Lei de Terras, em 1856, declarou que possuía 16 alqueires de terras com plantação de milho, no Ribeirão da Taquara. Casa-se com a viúva Francisca Cândida de Gouveia e com ela tem dois filhos. A partir de então, amplia o seu patrimônio adicionando o da viúva.

Na Fazenda Santana fazia experiências plantando diversas espécies de café. Além do tradicional tipo denominado de java, plantava o maragojipe, liberia, marta e amarelo, enviando relatórios ao Jornal do Agricultor de suas experiências. Na década de 1880, o segundo Barão de Cantagalo pede ao Banco Predial um empréstimo de 450 contos de réis, dando a Fazenda Santana como garantia. Três anos depois, ainda não saldando a sua dívida com o banco, faz um novo empréstimo com João Miranda e Companhia no valor de 237 contos de réis.

Nessa ocasião, a Fazenda Santana tinha uma dimensão aproximada de 800 alqueires de terras, com um 1,5 milhão pés de café. O trabalho era feito por 295 escravos, um número bem significativo, pois grandes propriedades na época tinham em média 120 escravos. Para o historiador Clélio Erthal, a falência do barão de Cantagalo deve-se ao fim do trabalho escravo, já que o mesmo imediatamente após a abolição ingressou no Partido Republicano, culpando o regime monárquico pela sua miserável situação financeira.

O segundo Barão de Cantagalo faleceu entre 1889 e 1900, deixando a Fazenda Santana bem endividada. Ainda de acordo com o pesquisador Clélio Erthal, o filho do segundo barão de Cantagalo, Augusto Brandão Filho, solicitou empréstimo a José Heggendorn Monnerat, dono de diversas fazendas, para saldar as dívidas do pai. José Monnerat não fez o empréstimo, pois sabia que indo a leilão, iria adquirir a Fazenda Santana por preço bem inferior ao valor solicitado por Augusto Brandão Filho.

E foi o que aconteceu. Arrematou-a no ano de 1900, em leilão em praça pública por uma quantia muito inferior ao montante que lhe fora pedido a título de empréstimo. Empreendedor, trouxe colonos para a Fazenda Santana e pagou o valor da fazenda com a sua própria colheita no mesmo ano em que a arrematou. A fazenda ficou em nome da firma Monnerat, Lutterbach & Cia. que atuava como comissária e ensaque de café no Rio de Janeiro.

Os Monnerat e Luterbach são descendentes de colonos suíços estabelecidos em Cantagalo. Na partilha da família, a Fazenda Santana ficou pertencendo a Sebastião Monnerat Lutterbach que manteve a produção de café, mas a diversificou com a lavoura branca e criação de gado leiteiro da raça guzerá, uma tradição entre os Lutterbach que trouxeram essa raça da Índia.

Sebastião Monnerat fez mais ainda, montou na fazenda uma fábrica de laticínios produzindo manteiga, queijo e requeijão com a marca Santana. O tetraneto de Sebastião, o médico Renato Monnerat, fez um esforço para adquirir há alguns anos atrás a Fazenda Santana, objetivando manter a memória familiar.

 Fui visitar essa fazenda e logo de início uma surpresa. Impossível imaginar que a atual sede fosse a mesma do tempo do segundo Barão de Cantagalo. De fato, não é. A sede da fazenda é bem diferente da atual e representa uma mínima parte do que fora no passado. Curiosamente, tinha no passado uma estrutura física bem diferente das fazendas do Segundo Reinado. Dos 800 alqueires essa propriedade foi desmembrada em diversas fazendas e hoje dificilmente encontraremos fazendas do período do império, nessa região, com essas dimensões. Não é atualmente uma unidade produtiva por dificuldade de se encontrar mão de obra para o trabalho na lavoura. O êxodo rural impossibilita que possa se cultivar qualquer produto.

A Fazenda Santana tinha um engenhoso sistema de captação e distribuição de água para dar conta da lavagem dos grãos dos 1,5 milhão de pés de café. Outra engenhosidade foi a construção de uma hidrelétrica para suprir a necessidade de prover energia na fazenda.

Continua na próxima quinta-feira, 23.

  • Foto da galeria

    A Fazenda Santana tinha uma dimensão de 800 alqueires, com um milhão e quinhentos mil pés de café, possuindo 295 escravos.

  • Foto da galeria

    A sede da fazenda é bem diferente da atual e representa uma mínima parte do que fora no passado.

  • Foto da galeria

    Além do tradicional tipo denominado de java, plantava o maragojipe, liberia, marta e amarelo.

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.