Vila Amélia: a chácara dos Martins Pinto - Parte 1

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Durante 50 anos, o palacete da Vila Amélia, de propriedade da Afape (Associação Friburguense de Pais e Amigos do Educando) foi alugado pelo governo do estado para servir como delegacia e carceragem de Nova Friburgo. Em 2013, após o Instituto de Criminalística Carlos Éboli ter condenado suas instalações, devolveu-o à Afape. Esse imóvel é reconhecido como patrimônio histórico e tombado provisoriamente pela prefeitura municipal.

No passado o casarão foi a chácara do português Antônio Pinto Martins. Casado com a conterrânea Carolina, a única filha da família, Amélia, daria nome a chácara dos Martins: Vila Amélia. As vilas são uma tradição portuguesa e havia inúmeras delas em Nova Friburgo. Áurea Maria Almeida, neta de Amélia e bisneta de Antônio e de Carolina, reconstituiu o cotidiano da família Pinto Martins na chácara da Vila Amélia através de um livro de memórias.

Segundo ela, Antônio Alves Pinto, nasceu no dia 1° de julho de 1862. Era natural de Fervença, Concelho de Celorico de Basto, no Minho, em Portugal. Filho de lavradores modestos veio para o Rio de Janeiro com 11 anos de idade trabalhando como caixeiro na firma Arantes & Rabelo. Mais adiante se empregou na empresa Coelho Martins & Cia, uma casa de secos e molhados, na Rua Uruguaiana.

Quando um dos sócios de sobrenome Martins faleceu, de empregado ele se tornou sócio adotando o sobrenome Martins, passando a chamar-se Antônio Alves Pinto Martins. Antônio conheceu Carolina Gomes da Rocha, nascida em 1863, em uma de suas viagens a Portugal.

Depois de regressar ao Brasil pediu que ela viesse. Casaram-se em 1898, ele com 36 e ela com 35 anos de idade, depois de terem tido três filhos. Carolina passou a chamar-se Carolina Gomes Martins. O casal teve oito filhos e Carolina antes de se unir a Antônio já tinha uma filha que veio com ela de Portugal.

Quando residia no Rio de Janeiro, Antônio Martins envolveu-se indiretamente em um interessante episódio histórico: a Revolta do Vintém, um protesto contra o aumento do preço dos bondes puxados por burros. O aumento de um vintém na passagem decretado pelo governo em 1879, foi motivo de violenta batalha campal, no centro da cidade.

Em 1° de janeiro de 1880, a um grito de “fora vintém”, os manifestantes começaram a espancar os condutores, esfaquear a mulas, virar os bondes e arrancar os trilhos ao longo da Rua Uruguaiana, por ocasião da revolta do “imposto do vintém”.

O chefe de Polícia, desembargador Eduardo Pindaíba de Matos, mandou intervir utilizando a Força Pública para dispersar os manifestantes. Nada conseguiu. Ao contrário. Irritou ainda mais o povo, que redobrou a violência nos protestos. Veio o auxílio da cavalaria do Exército, que investiu sobre a multidão, dispersando-a no meio de assuadas, pedradas e tiros de revólver, matando três pessoas.

Acuados, os populares invadiram a Casa Comercial Coelho & Martins, de Antônio Martins, que funcionava na Rua Uruguaiana. Retiraram de lá grandes sacos de rolhas de cortiça e espalharam pela rua. Os cavalos escorregaram nas rolhas, perderam o equilíbrio e os soldados caíram no chão sob as vaias da multidão.

Esse expediente permitiu a fuga dos manifestantes acuados pelo Exército. Trabalhando durante 40 anos em seu comércio no Rio de Janeiro, em 1914, aos 52 anos de idade, Antônio Martins teve um de derrame. Foi quando decidiu residir com a família em Nova Friburgo. Alguns fatores podem influenciado sua decisão de residir nesse município.

Nova Friburgo, cidade conhecida pelo seu clima salubre, indicada para o tratamento da tuberculose, era ideal para o seu filho Álvaro, tuberculoso, que já frequentara o Sanatório Naval de Nova Friburgo. Outro fator pode ter sido uma recomendação do engenheiro Farinha Filho, proprietário do imóvel onde o casal Martins residia no Rio de Janeiro.

Nova Friburgo não lhe era desconhecida, pois o seu filho Abílio era interno no Colégio Anchieta.

Continua na próxima semana.

  • Foto da galeria

    Antônio Alves Pinto, nasceu dia 1° de julho de 1862

  • Foto da galeria

    Antônio de Carolina casaram-se em 1898 e tiveram oito filhos

  • Foto da galeria

    Em 1914, após um derrame, Antônio Martins resolveu mudar-se para Nova Friburgo

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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