Padre Luís Pecci

quarta-feira, 14 de março de 2018

Quando algum amigo falece, a gente deixa tudo de lado, vai ao velório e segue ao sepultamento ou cremação. Hoje esta coluna de educação para a sequência e segue um velório à distância porque o amigo padre Pecci faleceu. Parece estranho, mas recebi pêsames pelo falecimento dele, como se fosse um parente. Tratava-se de mãe de um aluno do Anchieta que sabia que nós éramos amigos.

Certa vez, o provincial José Rinaldo Romanelli afirmou que se fôssemos imaginar uma oração feita por Luís Pecci, pela manhã de um dia qualquer, seria mais ou menos assim: “Senhor, permita-me passar este dia sem dizer um NÃO! Se pudesse diria sempre SIM”. Esta é a imagem que muitos tinham dele.

Nascido em Nova Friburgo, convivendo com as crianças do morro Santa Terezinha e Rua Santo Inácio, filho de italianos trabalhadores, Dona Carmella e Alberto Pecci, foi aluno do Anchieta ao tempo que havia um “Tiro de Guerra” para os alunos internos. Entrou para a ordem dos jesuítas, fez seus estudos e na última etapa da teologia no seminário de San Miguel, no subúrbio de Buenos Aires, enfrentou momentos difíceis do governo Perón, tendo de fugir, em roupas civis, para o Rio Grande do Sul, onde concluiu a teologia.

Sua atuação na PUC do Rio como vice reitor foi tão significativa que até às vésperas de sua morte em Belo Horizonte-MG ainda conseguia bolsas de estudos para estudantes amigos, usando influência que se alastrou pelo tempo. Foi uma figura marcante e importante para o Colégio Anchieta de Nova Friburgo, sendo seu reitor por duas vezes, todas em momentos cruciais. A primeira em 1966 quando a faculdade de filosofia transferiu-se para São Paulo e o colégio com 350 alunos era inviável economicamente.

Tal era a situação do Anchieta nesta época que, para ajudar nas finanças internas, ele próprio dava aulas na Faculdade de Filosofia das Doroteia, o padre Maurício Ruffier lecionava física no Cefel e quem escreve este artigo era orientador educacional no Colégio Rui Barbosa. Todos nós alimentávamos com salários mensais as contas internas de uma comunidade que nem geladeira possuía. Foi ele o salvador deste colégio, deixando-o com 600 alunos ao final de seu mandato. Retornou no final da década de 80, ocasião em que havia a necessidade de uma harmonização interna, tendo sido o reitor que comemorou o número máximo de alunos do Anchieta em 1992, quando foram matriculados 2.053 alunos.

Aliava firmeza de direção com especial bondade, expressava uma amizade ímpar para com todos e devotava especial carinho ao Anchieta, à cidade de Nova Friburgo e seus familiares. Amava profundamente seus irmãos e sobrinhos. Por onde passou deixou a marca da bondade, da atenção personalizada e marcou vidas com o seu modo de ser.

Talvez a filiação italiana tenha moldado um caráter ameno, sincero e amigo. Marcas estas que se coadunavam com o espírito da Província Romana dos jesuítas fundadora do Colégio Anchieta, diferente das intervenções da Província de França que mudaram o estilo romano por um estilo mais incisivo e dentro de um binômio não tão simpático: vigiar e punir.

Luís Pecci, dialogava muito, acolhia a todos e, embora fosse vigilante, ponderava muito antes de punir. No entanto, ao lado da mão que por ventura tivesse que assim agir, havia um coração amigo, sempre. Deus o acolheu porque as bondades se atraem. A paz que ele disseminou na terra será eterna e se disseminará pelo universo inteiro. Descansará em paz! Certamente, muito do que aprendemos, foi ensinado pela sua personalidade e carinho. Quando a porta do céu se abriu ouviu-se uma voz: saudações tricolores!

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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