Colunas
A escola de tempo integral
A primeira ideia que deve ser descartada na escola de tempo integral é a do aproveitamento do tempo para incluir mais aulas e mais disciplinas no currículo já saturado. Numa escola de tempo integral os alunos deverão continuar com um máximo de cinco aulas propedêuticas por dia. O restante do tempo será dedicado a outras atividades de cunho cultural, estudo individual que é o que está faltando na escola brasileira.
Em outros países ou o aluno estuda em casa e tem acompanhamento para esse fim, seja por internet, seja pela assistência dos pais ou está na escola com a assistência dos professores. É importante informar que os alunos, enquanto em sala, estão entendendo os assuntos. Para aprender eles precisam de tempo para estudá-los. Ora, sem acompanhamento nesse estudo individual, as aulas de pouco adiantam. Não se estuda em aula. Trata-se de grande engano defender que o aumento do número de aulas melhora a desempenho do aluno. O que muda é a existência ou não do tempo de estudo individual.
A escola de tempo integral, portanto, precisa ter espaço cultural, espaço para o aluno estudar (fazer exercícios), espaço para recuperação. Facilita esse sistema o trabalho em núcleos. O aluno pode estar na escola do bairro num dos turnos e, no outro, frequentar um centro de estudos. A concentração de algumas disciplinas e atividades neste centro cria uma economia de escala. Por exemplo: língua estrangeira lecionada neste local, reunindo alunos por nível, evita aulas com uma quantidade muito pequena, exigindo a contratação de mais professores. Se no centro concentramos a educação física, torna-se mais fácil e mais barato disponibilizar professores e ter equipamentos muito melhores para uso dos alunos; o mesmo processo pode ser aplicado para aulas de artes e de computação.
O fato é que já fazemos o que os países desenvolvidos faziam há 60 anos: todas as crianças nas escolas, transporte escolar, alimentação escolar e material escolar. O que está faltando e só uma escola de tempo integral pode proporcionar é a adequação dos conteúdos ao desenvolvimento psicológico da criança, o acompanhamento do estudo individual e o aumento da oferta de conteúdos culturais e abrangentes.
Para escolas confessionais, como as luteranas, o tempo integral proporciona uma série de vantagens para preleções, leituras bíblicas, cursos de formação para jovens e crianças. A criatividade do capelão da escola e sua equipe pode organizar um excelente programa de atividade anual. Além disso, é importante verificar que, mesmo sem o estudo de tempo integral, podemos ter escolas com índices elevados nas avaliações oficiais, o que não descarta o modelo porque essas escolas fazem parte de “ilhas de excelência” e não é o resultado comum esperado pelos avaliadores.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
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