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Superando paradigmas – O reducionismo
Um paradigma muito forte na civilização que dominou o século 20 é o reducionismo. Retornamos à velha Grécia e encontramos Aristóteles, que pensava que somente os homens passavam a carga genética para os filhos, buscando reduzir tudo à expressão mais simples. Daí por diante, as pessoas foram orientadas pelos estudos e pela vivência a “reduzir”. Por exemplo, um professor muitas vezes só entende uma avaliação quando a reduz aos números entre zero e dez. Pode ser escrito um parecer sobre o desempenho de quem está aprendendo; no entanto, a compreensão surge quando se reduz a uma determinada expressão.
Os estatísticos e economistas giram seu reducionismo em torno dos valores percentuais. Podemos encontrar alguns absurdos sem dizer uma só mentira. Por exemplo: “morreram 50% dos médicos da cidade durante o período das enchentes”. Analisando-se o fato, percebe-se que um médico morreu de velhice aos 98 anos, mas nada sofrera com a enchente. A cidade, por sua vez, tinha dois médicos. Tudo verdade reduzida aos percentuais. Nesse momento, a distorção aparece, seja porque somente um deles clinicava, seja porque a enchente nada tinha a ver com o fato e, ainda por cima, o percentual 50% nada tem a ver com o número 50 e sim com um médico.
Somos reducionistas quando definimos os programas mínimos a serem cumpridos num determinado curso ou treinamento de pessoal ou quando trazemos os problemas para o campo reduzido de nossos interesses para podermos lidar com eles.
Quando reduzimos um jogo aos parâmetros de outro, com regras semelhantes, ele perde a graça e as competições perdem o interesse. Costuma-se dizer que, para quem sabe usar unicamente uma ferramenta, como o martelo, todo problema, para ser resolvido, precisa ser um prego.
Isso me lembra a história de um matemático que gostava tanto do programa Lotus 123 que reduzia tudo que podia ao programa. Assim, as cartas eram escritas em Lótus, os cálculos eram feitos nesse mesmo programa e até alguns horários, para compatibilizar professores com suas aulas. Como o matemático não quis aprender Excel, nem Word – preferindo trabalhar em ambiente DOS, em vez de Windows -, se não houvesse uma redução, não haveria solução.
O tipo de visão e comportamento científico de um reducionista faz perder a visão do contexto e pode impedir avanços técnicos e o conhecimento de outros caminhos. Recentemente li um pequeno texto escrito por Antônio Machado que diz: “Caminhante, tuas pegadas são o caminho, nada mais. Caminhante, não há caminho, faz-se o caminho ao caminhar”.
O reducionista só entende os caminhos quando os reduz ao mapa que tem em suas mãos. Por isso o reducionista é um assíduo seguidor de rotas; não cria nem abre caminhos novos, tornando-se um repetidor de situações que, por vezes, todos conhecem.
Assim, o reducionismo diminui a ousadia de pensar e de viver, elimina a criatividade e faz com que as pessoas se tornem exímias copiadoras de “receitas” de bolo. O novo século exige um comportamento bem diferente. Precisamos de pessoas criativas, que enfrentem o novo com coragem e apresentem soluções alternativas para métodos e processos que não mais funcionam.
O reducionismo facilitava a educação e até o treinamento de uma pessoa que estava trabalhando, repetindo o que outros fizeram. Um reducionista acaba sendo um bom copista, nada transforma, e nada cria. Poderá, facilmente, engordar as filas dos desempregados, que já são bem grandes.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
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