Considerações sobre o ato de educar

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Muitos professores sentem-se realizados quando percebem o aprendizado dos alunos, sentem a validade de suas aulas. Alguns estão simplesmente satisfeitos quando ensinam e os alunos aprendem, mas, o importante, muito além das fronteiras do ensino-aprendizagem, é o ato de educar, porque ele inclui uma série de valores a serem discutidos com o educando, reavaliados além dos objetivos cognitivos, provocando no educando a oportunidade indispensável de questionar os valores passados pela escola e pelos professores. Educar envolve mais a qualidade que a quantidade, envolve objetivos mais afetivos que cognitivos. O ato educador desenvolve o processo de pensar, do avaliar, do querer e do desejar; não se trata de uma espécie de “educação bancária” em que uns recebem e devolvem mais ou menos conhecimento, diante daquilo que foi passado pelo mestre em sala de aula.

Por essa razão, alguns países ou sistemas, quando pensam na construção da pessoa, numa visão de Rogers, num tornar-se pessoa, dão mais valor à educação do que à instrução. E nessa perspectiva decidem pelas promoções dos alunos, independentemente de seu acúmulo de conhecimento, na esperança de que tenham adquirido alguma educação ou introjetado valores de interesse da sociedade. O problema não pode nem é definido a partir do simples conhecimento e do acúmulo de conceitos organizados pela escola regular. Esse aspecto é importante para que a sociedade possa progredir, mesmo que muitos não consigam assimilá-los plenamente. O importante, para a sociedade sobreviver, é que todos tenham educação, sejam portadores de atitudes e conhecedores de valores, sejam eles necessários à raça humana, sejam necessários à sociedade. Descartar os sistemas de aprovação automática como um desvio do enfrentamento das realidades não seria uma postura justa porque, além de serem conhecimentos, muitos superados após quatro ou cinco anos, não é somente desses conhecimentos que a sociedade avança. Hoje, é preciso ter a humildade de se reconhecer que a sociedade progride apesar da escola, uma instituição muito atrasada em relação ao avanço da tecnologia. As empresas estão desenvolvendo, cada vez mais, a pesquisa, buscando com esses mecanismos superar o que a escola não lhes oferece, seja porque a escola está cada vez mais desligada da realidade da sociedade, seja porque não há competência em pesquisa para oferecer soluções aos problemas enfrentados pela indústria. Dentro dos conceitos de controle de melhoria da qualidade da produção, as empresas pedem auxílio a todos, desde os engenheiros aos operadores de máquinas no fundo dos galpões de produção, e de todos recolhem sugestões para a melhoria de seus padrões. A escola fixa a evolução na capacidade, por vezes estática, de seus currículos e programas, evoluiu muito lentamente em qualidade e em quantidade, atende a programas enfadonhos para dar segurança às corporações dos vários profissionais envolvidos com os sistemas de ensino e os educandos ficam relegados a planos muito abaixo das necessidades e exigências da sociedade. Para se reverter o quadro, é necessário que a escola seja favorecida por uma legislação mais ágil e adaptada aos tempos modernos, que atenda às liberdades individuais e à criatividade, e não seja o depósito ou armazém final de acúmulo de legislações que a mantém numa camisa-de-força atrasada e superada.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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