Em que “Barcos” estamos?

sábado, 16 de janeiro de 2016

Amigos alvinegros! Para entrarmos no assunto dessa semana, preciso antes compartilhar uma pequena história com vocês. Além de colunista, jornalista esportivo, assessor de imprensa e produtor e apresentador de TV, sou radialista (ufa!). Na Nova Friburgo AM, sou responsável por editar e apresentar o Repórter Friburguense, o radiojornal da emissora, e também um programa de variedades, o Sintonia Maior. Exatamente neste, já no último trimestre do ano passado, recebemos a visita de algumas turmas de pequenos estudantes do Colégio Nossa Senhora das Mercês, aqui de Nova Friburgo. As cerca de 100 crianças deveriam ter entre quatro e dez anos de idade, em média, no máximo.

Como é tradição, levamos os pequeninos para a cabine, e uma das perguntas que sempre é feita para “quebrar o gelo” em frente ao microfone é o time de coração. Para a minha grata surpresa, havia muitos – muitos mesmo – botafoguenses. Muito mais do que tricolores, bem mais do que vascaínos e equilibrado com rubro-negros. Estávamos num momento instável na série B do Brasileiro, mas ali, naquele dia marcante para a pessoa e profissional Vinicius Gastin, eu voltei a acreditar e a sonhar com dias melhores para o Botafogo.

Fui para casa, e ainda curtindo aquele momento, comecei a pensar nos “porquês” daquela grande quantidade de alvinegros. Claro que, naturalmente, o destino é bondoso com alguns, os privilegia, os dá a missão de fazer a diferença, de viver e não apenas existir, e os escolhe para seguir a Estrela Solitária. No entanto, são 20 anos sem títulos nacionais, diversas decepções, rebaixamentos, mídia que apenas tem a intenção de derrubar e privilegiar o clube que vive de mentiras – isso sem excluir, é claro, a incompetência daqueles que administraram o clube nos últimos tempos. Em meio a tantos fatores negativos, procurei algo que explicasse o surgimento daquelas estrelinhas no céu escuro de um cenário conturbado. Sabem em quem eu pensei? Loco Abreu!

Pode parecer loucura – sem analogias, é claro -, ou uma lógica sem nexo algum. Mas o uruguaio vendeu camisas, produtos e recuperou a auto-estima do torcedor alvinegro depois de três insucessos consecutivos contra a arbitragem em decisões de carioca e decepções em série nas competições nacionais. O cálculo, considerando a idade daquelas crianças e a passagem do jogador pelo Botafogo, tem como resultado o efeito Abreu. Carismático, artilheiro e polêmico. Do jeito que o botafoguense gosta. E ainda autor de um gol marcante no Maracanã, de cavadinha, recontando a história como ela sempre aconteceu. É nós contra eles? Humilhamos, fazemos sentar, chorar, goleamos, acabamos com invencibilidades ou favoritismo. Abreu apenas recolocou os pingos nos “is”.

Dentro desse contexto, cheguei a ficar um pouco mais empolgado quando li sobre o interesse do Botafogo na contratação do atacante Barcos. Infelizmente, ao que parece, essa possibilidade foi descartada pelo presidente Carlos Eduardo Pereira. Pode ser verdade ou estratégia para desviar o foco de uma possível negociação. Gostaria muito de acreditar nessa segunda hipótese. Pelo menos, já seria sinal de ousadia e de entendimento da nova diretoria sobre a necessidade de um grande clube, do tamanho do Botafogo (um dos 12 maiores de todos os tempos) em contar com uma referência. Mesmo num momento financeiro delicado, é perfeitamente possível esse tipo de investimento através de um planejamento de marketing bem feito. Aliás... Esse setor, o marketing, está de férias ou encerrou as atividades há pelo menos dois anos no clube. Ou eu estou enganado?

Mas voltando ao tema central, eu reconheço a importância e a idolatria do Jéfferson. É algo, de fato, indiscutível! A qualidade, a identificação, o comprometimento e o amor do goleiro pelo Glorioso são comoventes e suficientes para colocá-lo no hall dos grandes jogadores da nossa história. Mas existe um porém: o Jéfferson não faz gols, não provoca o adversário e nem motiva tanto o torcedor a ir ao estádio como um grande artilheiro faria, por exemplo. Quando o camisa 1 de uma equipe é o melhor em campo quase sempre não é bom sinal. Faço questão de repetir: não é pelo Jéfferson, quem considero um grande ídolo. Mas pela cultura do nosso futebol e pela necessidade de ter alguém para dividir a responsabilidade de ser referência.

Bastou surgir o nome do Barcos e criou-se um alvoroço entre os alvinegros nas redes sociais. Imaginem se ele é contratado, veste a camisa e arrebenta no início de temporada. Pronto! Além das consequências técnicas dentro de campo, a nossa camisa, uma das mais comercializadas do país, triplicaria em vendas; A torcida voltaria a acreditar e a comparecer em bom número aos estádios; E arrisco a dizer, com quase toda a certeza, que a quantidade de sócio-torcedores aumentaria consideravelmente – isso depende também da competência do clube em lançar um programa atrativo e divulgá-lo corretamente. A longo prazo, a referência traz um retorno imensurável, como fez Loco Abreu: ela é capaz de aumentar o nosso maior patrimônio, que é a torcida!

Por enquanto, resta tentar manter o otimismo. Acreditar quando Ricardo Gomes diz que o Lizio vai dar conta de vestir a camisa 10, e que Nuñez é bom jogador. Confiar que as promessas da base vão ter um ano de afirmação, e que os outros reforços contratados, a princípio desconhecidos, serão capazes de suprir as nossas necessidades.

Se no papel o time não motiva, cabe a nós lembrarmos que o Botafogo é o que há de mais lógico dentro de um contexto onde não há lógica nenhuma; é o improvável capaz de desafiar qualquer possibilidade, ou o entendimento mais complexo dentro do que parece ser tão simples. O botafoguense sabe o quanto essa camisa é mágica. E isso basta para quem faz parte do grupo de cinco milhões de escolhidos! Tanto para ficar temeroso, quanto para acreditar no impossível.

Saudações alvinegras! E no dia 23 tem amistoso... Vamos começar a observar, analisar e torcer. A viver novamente o nosso imenso prazer, o Glorioso Botafogo de Futebol e Regatas...

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