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A força de um abraço...
Aquela mão esquerda que, em 17 de dezembro de 1995, voou para espalmar o chute à queima-roupa de Giovanni, no Pacaembú, agora retribui com cumprimentos cada demonstração de carinho e gratidão. As mãos que fizeram outras inúmeras defesas importantes e levantaram o troféu de campeão brasileiro há 21 anos – além de tantos outros títulos entre 1993 e 2002 – agora recebem das mãos dos alvinegros uma pequena taça em forma de agradecimento. A distância que parecia separar o ídolo dos fãs praticamente já não é existe. Hoje o eterno camisa 1 é amigo, companheiro de bate-papo. Uma referência que se tornou escolhido pela história. E ocupou uma fatia ainda maior do coração de quem teve a oportunidade de estar com ele pela simplicidade como pessoa.
Aquela disposição demonstrada em campo, que traduzia o verdadeiro prazer de vestir a camisa Mais Tradicional do país, nada mais era do que a característica de uma figura humana fantástica. A entrega durante os jogos já seria o bastante para admirar o camisa oito, mas a chance de conhecê-lo e homenageá-lo aumenta a idolatria. E num dado momento de uma das tantas conversas, a revelação: “quando a torcida cantava o hino no estádio, arrepiava. Só de lembrar eu me arrepio até hoje.” Ele sabe que se trata de uma gente única. O coração alvinegro pulsa diferente de qualquer outro.
Aqueles cruzamentos precisos da esquerda, que certamente ajudaram a fazer de Túlio “o Maravilha”, jamais serão esquecidos. Duas décadas depois, alguns torcedores tiveram a oportunidade de trocar passes com ele, que levou às suas costas um dos números históricos do Botafogo. Vestiu a seis, e a honrou como poucos. O eterno Nilton Santos certamente ficou orgulhoso. E ficaria ainda mais contente – se é que não teve essa oportunidade – em conhecer pessoalmente um de seus sucessores.
Aqueles pés foram responsáveis por 127 gols em 301 jogos. E ele não precisou ganhar títulos de expressão para conquistar a torcida do Botafogo. Jogador do Glorioso nos anos 70, entrou para a história como o 13º maior goleador do clube. Fez parte da equipe que atingiu a invencibilidade de 52 jogos, entre 77 e 78. A emoção demonstrada junto aos torcedores passa uma credibilidade inexplicável. A emoção ao relembrar os fatos e relatar as diversas vezes em que a arbitragem impediu que aquelas mãos levantassem um troféu. Azar do destino. O troféu de reconhecimento ele recebeu daquela gente que tanto vibrou com o seu talento.
Aquele grupo de torcedores sabe mesmo o que significa a força de um abraço. Exatamente porque eles abraçam. Especificamente porque eles são o Abrace. O Abrace o Botafogo. Wagner, Jamir, André Silva e Nilson Dias agora também sabem o que significa a força desse abraço. O quarteto, que por tantas vezes ajudou a imortalizar datas e conquistas, fez do último sábado, 5 de março, um dia inesquecível para aquele grupo de escolhidos. Centenas de botafoguenses participaram do 1º Torneio de Futebol do Abrace o Botafogo em Nova Friburgo. O objetivo central de atrair novos sócios torcedores para o Glorioso se expande, e chega ao patamar de desenvolver uma relação de proximidade, amizade e respeito entre ídolos e torcida. Só mesmo um clube diferenciado - que possui uma torcida diferenciada - poderia proporcionar momentos como esse.
O principal abraço de domingo foi Fernandes quem recebeu. Autor do gol da vitória por 1x0 sobre o Boavista, o garoto garantiu ao Botafogo a melhor campanha na primeira fase do campeonato carioca. Sim, meus amigos... Aquele time desacreditado, criticado e tantas vezes desdenhado pela mídia é o melhor do Rio de Janeiro em números absolutos nessa primeira metade do Estadual. Sabemos que a frieza da matemática não pode esconder a grande necessidade de evolução e contratações. É algo que não se discute, e ao que parece, a própria diretoria reconhece e já busca reforços. Entretanto, jamais podemos deixar de exaltar o peso dessa camisa. Ou existe alguma outra explicação? Sem desprezar o trabalho de Ricardo Gomes, é claro, mas é preciso um toque da magia alvinegra. O Botafogo começa a Taça Guanabara contra o Fluminense, já no próximo final de semana. O Glorioso precisa provar para ele mesmo, jogo a jogo, que possui um time competitivo. E só. Força e tradição há de sobra para buscar o título carioca.
Dentre tantos abraços, o torcedor do Botafogo espera poder abraçar, daqui a alguns anos, os jogadores que hoje vestem o manto e carregam a inconfundível Estrela Solitária no peito. A dedicação, a identificação e as conquistas poderão fazer deles os próximos homenageados. Enquanto isso, o alvinegro espera assistir, já neste começo de 2016, ao abraço coletivo de jogadores e comissão técnica em campo e dos torcedores nas arquibancadas. O abraço que poderá vir depois do apito final, e junto à execução do hino mais belo do planeta. Abracem daí, enquanto nós sempre abraçaremos daqui.
Saudações alvinegras! Que venha a segunda fase, os clássicos e tudo o que nos espera. Até a próxima!
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