É impressionante como o caderno Light mexe com as minhas emoções. Uma simples frase “You are speaking” - me levou, não para outros mundos, mas para os tempos da infância, quando papai e mamãe estudavam inglês, em casa, com o auxílio de um “línguaphone”. Tratava-se do estudo por vários discos, acompanhado dos livretos, com muitas lições. Eles levavam muito a sério o aprendizado, tão a sério que, quando mamãe comprou um telescópio, eles traduziram o manual de instrução e montaram o aparelho com a maior facilidade. Além do mais, eles adoravam traduzir as canções dos Beatles.
Surpresas de Viagem
Elizabeth Souza Cruz
Surpresas de Viagem
A jornalista-poeta-escritora-trovadora-caçadora de cometas Elisabeth Sousa Cruz divide com os leitores, todas as terças, suas impressões a bordo do que ela carinhosamente chama de “Estação Caderno Light”, na coluna Surpresas de Viagem.
E o inverno chegou! Esse é o mote para a viagem que o caderno Light nos propõe na plataforma de embarque. E já vamos lançando mão das indicações de Marlon Portugal, pois, com uma simples “meia-calça diferente”, o frio pode ser bem mais descontraído. Contudo, a proposta mais quente de Marlon está numa nota, onde ele nos convida para uma campanha de agasalhos. Vamos ajudar!
“Sabemos quem somos, afinal?” Com essa questão embarcamos na plataforma Light, nas reflexões de percurso – “Aliás: é preciso mesmo saber? “Identidade, orientação, expressão, sexo biológico” – na complexidade do tema, o embarque nos conduz ao infinito do que é ser humano. Não mais na modernidade líquida de Bauman, parece que chegamos a uma modernidade plural que vai se fixando na solidez da multiplicidade existencial.
Hoje vamos fazer diferente – primeiro alimentar o apetite com o caldinho de palmito e leite de coco, receita glamourosa que Chico Figueiredo nos brindou na última edição do caderno Light do fim de semana. Vovó Mariana dizia – “primeiro o dever de casa, depois a brincadeira!”. Mas vale inverter a viagem e começar alimentando o corpo, para que o intelecto fique forte para as emoções do nosso Light.
Uma bandeja apetitosa! É assim que se pode definir a capa do Caderno Light do último fim de semana, sem que nos escape a oportunidade de alimentar a fome de conhecimento por uma alimentação saudável. É o que nos propõe a dieta paleolítica – “à base de plantas selvagens, carne, gordura, ovos...” – Seria possível resgatar uma disciplina alimentar natural?
Embarcar na estação Light é como visitar uma grande exposição de artes, olhar tudo, e não saber por onde começar a descrever os objetos contemplados. “Oxente”, isso é o próprio “desassossego” da escrita! A abrangência do tema me lembrou, lá pelos anos 90, quando meus sobrinhos de São Paulo vinham passar férias aqui. Havia sempre o momento de conflitar (no bom sentido) os modos de expressão.
Meia hora parada na estação de embarque apreciando a foto da Avenida Alberto Braune. Regina Lo Bianco acordou cedo para fazer a fotografia – a sombra do arvoredo vinda do sentido leste, pouco movimento e lojas ainda fechadas. Uma cidade acordando e toda bonita como sempre!
Enfim chegou o Dia das Mães! Bom para o comércio, bom para os filhos, principalmente os que estão longe e aproveitam para filar a boia na casa da mamãe. E corre a mãe para a cozinha preparar o banquete, trabalho que lhe custa, horas a fio, na beirada do fogão. Depois, tira a mesa e lava a louça, enquanto a filharada vai para o quarto assistir a Netflix.
O Dia do Trabalho abre o mês de maio, fazendo lembrar minha infância nos arredores da Fábrica de Filó quando eram homenageados muitos funcionários, com destaque para o “operário padrão”. Era o modo de relevar a classe trabalhadora, que cumpria a jornada de trabalho, sujeita aos apitos e à disciplina alemã. Com a evolução tecnológica, o trabalho ganhou novos estilos e o Light nos dá um panorama interessante do assunto. “A qualquer hora, em qualquer lugar – trabalhadores” – ser “um frila” tem sido o sonho realizado de muita gente que embarcou na era digital.
O caderno Light abre o roteiro com o pensamento de Carl Sagan, como um aperitivo para o banquete de conhecimentos que nos aguarda na plataforma de embarque. “Quem conta a nossa história?” – A pergunta aguça a reflexão e lá vamos nós em “Antigos rastros”, com Deborah Simões, repensar Aluísio de Azevedo que, em 1890, lança o livro “O cortiço, retrato de um Rio de Janeiro em pleno 2016...”. Vale, então, pensar que “os cortiços e as fragmentações persistem”.