A plataforma de embarque tem tanta novidade que é preciso cautela para organizar a bagagem literária, sem que se perca uma linha das narrativas. A partida é dada pelo Dia da Mentira, o 1º de Abril. A criançada do meu tempo adorava fazer pegadinhas. Lembro-me de papai, aniversariante nesse dia, como ganhava caixa de sapatos, vazia, com um bilhetinho – “caiu, caiu, 1º de abril!” - Hoje, parece que a coisa se banalizou tanto, que a mentira anda corriqueira. Entre as “Impressões”, quanta balela nos foi contada desde a infância! Aliás, de invencionices o mundo anda cheio.
Surpresas de Viagem
Elizabeth Souza Cruz
Surpresas de Viagem
A jornalista-poeta-escritora-trovadora-caçadora de cometas Elisabeth Sousa Cruz divide com os leitores, todas as terças, suas impressões a bordo do que ela carinhosamente chama de “Estação Caderno Light”, na coluna Surpresas de Viagem.
O Caderno Z, a nova plataforma de embarque, tem panoramas imperdíveis! Seguimos o roteiro sabendo que “não estamos sozinhos”, porque se temos em torno de “100 milhões de planetas em nossa galáxia”, a ciência acabará nos dando conta de que nossos irmãozinhos extraterrestres são mais do que reais. Com esse tema intrigante, a página de “Impressões” lança o olhar para a “temida meia-noite” e não é de hoje que anunciam o fim do mundo. Contudo, vale a teoria de José Simão, pois para o brasileiro assalariado, o “fim do mês é o fim do mundo em parcelas”.
O embarque agora é pelo Caderno Z – bonito, inovador e muito fácil de encaixar na bagagem literária das Surpresas. Ah, quanta coisa boa para ampliar o conhecimento! Vamos entender de carro em “Sobre Rodas” e Márcio Madeira informa que manter o carro parado na garagem não é estratégia para prolongar a vida útil do veículo. Em “Agora Faz”, vamos saber o que há de melhor na hora de adquirir um automóvel. O importante é que com ou sem carro, o caderno aponta o roteiro para Nova Friburgo, a “Cidade das Flores”.
Para quem gosta de filosofar, tudo é motivo de uma boa prosa e até na página de “Esportes” é possível fazer analogias. Gosto de ler os depoimentos e conhecer as histórias dos atletas. Edson Barboza conta um pouco de suas estratégias, entre mudanças para se aperfeiçoar. E confessa – “Eu sempre acabei minhas lutas bem machucado...”. A frase, para a filosofia, é um prato cheio, pois, quem consegue terminar uma luta sem ficar em pedacinhos? O esporte é uma simulação da existência. Alias, se tem uma coisa organizada no Brasil é o esporte.
O Caderno Light está de férias e a plataforma de embarque começa com uma bela foto de Henrique Pinheiro, a quaresmeira, que é todo encanto. Marca friburguense, a Quaresma se pronuncia entre os mais de cinquenta tons de verde que a natureza dispõe para o nosso encantamento. O roteiro aponta para as riquezas naturais e assim pegamos o caminho para as homenagens ao Dia Internacional da Mulher. O 8 de março nos remete aos episódios ocorridos em lutas por direitos para a classe trabalhadora feminina.
A fantasia está pronta e o Light é puro grito de carnaval. “Salve os orixás e muito axé para nossa nação!” - tudo de bom no Unidos do Imperador – “Abra a porta do terreiro, deixa meu canto ecoar”! Mas... “Me dá licença vou chegando, muitas léguas caminhei...” – e no Raio de Luar é festa de reis. É folia de Momo, mas “traz a sanfona que eu pego a viola” que na agricultura do Bola Branca nós vamos “plantar amor pra colher a paz”! Nessa colheita, “somos madeira de lei que nem cupim destrói” – garante o Globo de Ouro, “eternizado nesse carnaval”.
Nem sempre o pontapé inicial da caneta vem de forma rápida, no estalar dos dedos. Quanto mais denso for o tema do Light, mais instigante é saber por onde começar. É sempre a capa do caderno que anuncia a plataforma de embarque, por isso vamos tirar “o peso das costas” e seguir os “Os Dozes Passos de Alcoólicos Anônimos”, refletindo sobre o que ainda muita gente resiste em aceitar como doença. Há o costume de se contar piadas sobre o “bebum” sem que se imagine o drama com que se reveste o fato. Graças ao apoio do A.A. muita gente tem se recuperado e restabelecido a dignidade de viver.
Mal peguei o passaporte Light, embarquei para a casa da infância, na Filó, onde o rádio era a companhia de todas as horas. Papai ouvia esportes, mamãe, os clássicos da Ministério da Educação, vovó queria as novelas da Rádio Nacional e tia Maria Luiza não perdia Cauby Peixoto e Emilinha Borba no programa de Cesar de Alencar. Mas não faltava também a sintonia na Radio Cipó, sempre amiga. Papai contava que no seu tempo de mocidade, o chic em Nova Friburgo, na década de 40, era fazer roupa nova, no alfaiate, e sair para ouvir rádio na Praça Getúlio Vargas.
Quando o assunto é “volta às aulas”, não há como não voltar ao tempo de criança. Minha lembrança aponta sempre para a escolinha da Filó, onde dona Neusa nos aguardava com sua formosura e gentilezas. E o Light nos convida a embarcar com o professor Hamilton Werneck que, entre outros depoimentos abalizados, ressalta – “Minha percepção em relação ao conjunto de deputados e senadores é que eles não elegem a educação como ação prioritária e transformadora”.
Contemplando a capa do Caderno Light, os significados saltam aos olhos e em cada símbolo, a lembrança acusa o recebimento da mensagem – para bom conhecedor, apenas um pontinho basta! Diego Aguiar Vieira, mestre em tanta coisa, é nosso cicerone e nos apresenta algumas “feras” da história em quadrinhos. Não sem antes filosofar – “para se viver nos dias que correm, ou se crê no fantástico ou se está condenado à amarga realidade”. E confessa – “...