Os tesouros literários das águas mediterrâneas - Parte 1

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Em outubro fiz uma viagem à Itália, quando visitei algumas cidades ao centro-sul do país, a maioria litorânea. É um território banhado pelo mar Mediterrâneo, que ganha nomes diversos ao longo da costa, como Tirreno, Jônico, Adriático. É um mar de águas calmas e aquecidas por serem abrigadas e receberem o calor do deserto de Saara. É um mar intercontinental por costear a Europa, a África e a Ásia, banhando o território de Gibraltar, Espanha, França, Principado de Mônaco, Itália, Malta, Eslovênia, Bósnia, Montenegro, Herzegovina, Albânia, Chipre, Croácia, Albânia, Grécia, Turquia, Síria, Líbano, Israel, Egito, Líbia, Tunísia e Argélia. Nele desaguam mais de sessenta rios, dentre eles o Nilo, como também se comunica com os mares Negro e Vermelho. Na verdade, o Mediterrâneo faz parte de oceano Atlântico. 

Ao fazer um passeio de barco de Amalfi à Capri, o marinheiro, em conversa, disse que naquelas águas Ulisses ou Odisseu retornou para casa, na ilha de Ítaca, que fica próximo à Grécia. Meu coração pulou desassossegado, fiquei quase sem ar, e meu pensamento adentrou o universo literário, retirando daquelas águas cálidas e belas, os tesouros ali contidos, onde a civilização humana fincou uma de suas principais raízes, trazendo em seu destino histórias que delinearam significativas bases do pensamento oriental e ocidental. Em Odisséia, poema épico, atribuído à Homero, no século IX a.C., é narrada a travessia de Ulisses no Mediterrâneo. Há registros que Homero era um homem pobre e cego que, ao peregrinar de terra em terra, recitava poemas como forma de agradecer a comida e o agasalho que recebia. É uma obra literária, que tem, hoje, três mil anos, cujos poemas foram transmitidos oralmente, de boca em boca, de geração a geração. 

Minha viagem, então, ganhou novos contornos. Ao margear o Mediterrâneo, passei a estudá-lo cuidadosamente. Inicialmente, seu nome tem vários significados, como entre terras e nosso mar. Ao se pensar na literatura mediterrânea, podemos observar que o nome mediterrâneo é, por excelência, literário; quando sussurrado em suas sílabas torna-se melodioso, o que já oferece um caráter inspirador. Além do que o mar foi batizado com inventividade, já que ganhou vários nomes em sua extensão, como Egeu e Ligúria, dentre outros. A seguir, o mar é um ambiente natural essencialmente literário, ou seja, fala-se do mar através de narrativas e descrições, o que não deixa de ser um empenho da pessoa que fala para compreender a incógnita e a desafiadora natureza marítima. Além de ser criativa! É impossível narrar histórias que ali aconteceram ou foram inspiradas sem viajar no tempo. Ao olhar para seus horizontes, eu tinha a impressão de que o tempo ia e voltava, e tudo o que aconteceu sobre suas águas vinham para aquele instante espontaneamente, como constatar que a Odisséia se constitui em uma obra que, hoje, é estudada e pesquisada nos âmbitos das Ciências humanas, dado que os temas ilustram a natureza humana. 

As Mil e uma Noites é uma obra literária de valor inestimável, cujos contos de fadas, hoje, são recontados incessantemente pelos quatro cantos do planeta em forma de contação de histórias, apresentação teatral e cinematográfica. Os contos das As Mil e uma Noites foram popularizados nas margens ou nas proximidades do Mediterrâneo. As histórias de Xerazade foram originariamente escritas em grego, depois compiladas em árabe, e traduzidas para o francês no século XVIII. 

Como este tema é sedutor e vasto! Inesgotável, talvez. Por isso vou continuar na próxima semana.

Bons ares mediterrâneos a todos!

 

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Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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