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A imigração italiana em Nova Friburgo
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
Arthur Guimarães em "Um Inquérito sobre Nova Friburgo”, escreveu, em 1910, que no comércio ambulante os italianos levavam suas mercadorias em carrinhos, tabuleiros ou samburás: "Um vendedor italiano, idoso, carrega os balaios cantarolando, com voz de barítono, sem ofender os ouvidos, vários trechos de óperas”. A imigração maciça de trabalhadores estrangeiros para o Brasil, principalmente italianos, sobretudo a partir de 1886, durante quase meio século, está diretamente ligada à constituição de um mercado livre de trabalho para a grande lavoura. Cerca de 3,8 milhões de estrangeiros entraram no Brasil entre 1887 e 1930, com os italianos formando o grupo mais numeroso, vindo a seguir os portugueses e os espanhóis. Os italianos, conhecidos como alegres e emotivos, de sotaque cantante, eram vistos como laboriosos lançando-se à faina da lavoura, carpintaria, comércio, indústria e no campo das artes. Imigraram para Nova Friburgo a partir do final do século XIX as famílias Spinelli, Lo Bianco, Lívio, Bizzoto, Tessarollo, Merecci, Bianchini, Cantelmo, Vassallo, Miele, Mastrangelo, Cariello, Vanzilotta, Senna, Vitiello, Pecci, entre outros. Deu-me grata satisfação a entrevista que o Sr. Antônio Lobianco me concedeu sobre a sua chegada em Nova Friburgo, na terceira década do século 20. Sua entrevista será apresentada na Luau TV, no próximo domingo. Nascido na região da Calábria, em 10 fevereiro de 1915, Antonio Lobianco completará cem anos no início de 2015. Ele nos descreve o cotidiano de Nova Friburgo em princípios do século XX, quando aqui chegou com outros imigrantes italianos.
A mobilidade social ascendente dos imigrantes que se estabelecem nas cidades é inquestionável. Verificamos esse fenômeno no êxito desses imigrantes em atividades comerciais e industriais. Os italianos que imigraram para trabalhar nas plantações de café como colonos no Centro-Norte Fluminense raramente prosperaram. Já os que imigraram para Nova Friburgo ascenderam economicamente nos ramos industrial, comercial e de prestação de serviços. Os núcleos urbanos, ainda que incipientes, ofereciam melhores condições de ascensão social do que o campo. Giovanni Giffoni era proprietário de um armazém de secos e molhados, do Café Colombo, de um bilhar, além de ser importador de vinhos italianos. Igualmente possuía uma fazenda de café e residia em uma das residências mais belas e elegantes de Nova Friburgo. Posteriormente tornou-se a Casa d’Itália e hoje, no local, o Edifício Itália. Outro ilustre italiano foi Carlos Éboli. Nascido em 1832, chega ao Brasil na segunda metade do século XIX. Foi responsável, junto à Companhia de Jesus, pela vinda do Colégio Anchieta para Nova Friburgo. Éboli, objetivando um empreendimento grandioso, construiu o maior estabelecimento hidroterápico da América Latina em Nova Friburgo. Anexo ao prédio da hidroterapia edificou o Hotel Central, para servir aos hóspedes. No outrora prédio do hotel funciona atualmente o Colégio N.S. das Dores. Os italianos ganharam no executivo municipal um importante prefeito: Dante Laginestra, que governou no período de 1935 a 1946, favorecendo a já expressiva e articulada colônia italiana. Porém, os Spinelli são o exemplo mais exponencial da prosperidade dos imigrantes italianos em Nova Friburgo.
Os italianos criaram diversas associações de auxílio mútuo, como a Casa d’Italia, fundada em 1914, e a Casa de Cultura Dante Alighieri. No campo da sociabilidade, introduziram o jogo de bocha na cidade, formando diversos clubes e organizando campeonatos. A colonização italiana trouxe o gosto pelas artes. Nas atividades ligadas a música, a exemplo das bandas, os italianos foram grandes maestros e sofisticaram o repertório das sociedades musicais que eram originariamente compostas por escravos charameleiros. Na restauração da catedral São João Batista realizada em 2014, descobriu-se no presbitério uma pintura do artista plástico Martignoni. Imigrante italiano do final do século XIX, Martignoni tem igualmente trabalhos no chalé do barão de Nova Friburgo, no teatro do Colégio Anchieta e possivelmente no palacete do Barão de Duas Barras, atual Faculdade de Odontologia da UFF. Os imigrantes italianos dominavam o comércio nos ramos de alfaiataria, relojoaria, sapataria, funilaria, açougue, venda de mármores, carpintaria, carroçaria e venda ambulante de jornais. Dividiam com os portugueses o comércio das padarias. No campo da indústria, era peculiar aos italianos a fabricação de massas. Convido a todos a assistirem no próximo domingo a entrevista na Luau TV, às 18h30, com aquele que tem a memória da imigração italiana em Nova Friburgo: Antonio Lobianco.
Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora de diversos livros sobre a história de Nova Friburgo. Curta no Facebook a página "História de Nova Friburgo”
Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
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