Colunas
A cola, a escola e a internet
Fato recente tomou conta dos noticiários no Brasil acerca de uma escola do Rio de Janeiro que enviava os deveres de casa através da internet. Os alunos que dessem conta de todos os exercícios poderiam ser beneficiados com mais um ponto na média do bimestre. A crise foi iniciada quando a escola descobriu que todas as respostas estavam num site de relacionamento de uma das alunas.
Instalou-se um clima de descontrole. A aluna foi instada a retirar as respostas ou desativar o site. Foi suspensa, segundo a imprensa, por cinco dias e, ainda conforme foi noticiado, enviada para casa no meio do turno escolar, ficando perambulando pelas ruas do Rio de Janeiro sem que a família fosse avisada.
A família recorreu a uma delegacia de polícia alegando constrangimento da aluna. O fato ganhou a imprensa nacional, servindo para encobrir em parte a crise do Colégio São Bento, na mesma cidade.
Já comentei em meu blog que a aluna merecia um premio pelo uso da ferramenta de comunicação. É muita ingenuidade usar a internet para solicitar que os alunos façam exercícios e esperar que a mesma não seja usada para as respostas. A escola não pode desconhecer o poder eletrônico da rede mundial de computadores. Os alunos nasceram dentro desta era e comunicam-se com uma rapidez quase impossível de ser acompanhada.
O melhor que uma escola pode fazer se quiser usar os meios de comunicação é sugerir que assistam filmes, que discutam com os colegas pelo twiter alguns assuntos, postando-os nas redes e até enviando desafios acadêmicos para toda a turma da escola, insistindo para que pesquisem, consultem os colegas, troquem experiências e postem os resultados. Os desafios devem ser muito difíceis para criar esse espírito de busca e ousadia do nosso estudante. O erro está em conceder pontuação para este tipo de exercício.
Outra questão mais importante para os estudantes é saber que, sem fazer exercícios, não aprenderão. Exercitar-se é uma das condições indispensáveis para aprender.
A punição da aluna, na minha visão, é injusta porque todos os colegas, certamente, beneficiaram-se do mesmo sistema. Não apareceram porque permaneceram na obscuridade. As redes existem para serem usadas, as escolas é que precisam estar adequadas aos tempos de mídias mais modernas e usá-las em benefício dos alunos conforme as características das mesmas.
Se a aluna foi enviada para casa no meio do turno, então se trata de falta grave por parte da escola, mormente diante de uma cidade que não oferece tanta segurança.
Mas, a pergunta fundamental ainda é outra: - por que isso ainda ocorre? Por que uma família prefere a delegacia de polícia à coordenação da escola?
Isso ocorre pela falta de estabelecimento de um elo fraterno entre escola e família muito além da assinatura de um contrato de prestação de serviço. Além disso, tanto a escola e os professores precisam ter mais cuidado com as pessoas, quanto as famílias devem desenvolver em seus filhos o respeito pelos mestres e instituições escolhidas para que eles estudem.
Em educação, a relação formal precisa existir, no entanto, a relação afetiva e de confiança será o pano de fundo de toda uma educação de excelência.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
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