Não, não quero adotá-la. Se bem que, pensando bem...
Escrevivendo
Robério Canto
Escrevivendo
No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.
— Moça, dá licença. Não se assusta, não. Dá licença pra eu sentar aí do seu lado.
— Que maluquice é essa, cara! Tá brincando comigo? Olha que eu pulo agora mesmo. Tou brincando não.
— Eu sei... Claro que não! Foi por isso que eu me resolvi também.
— Não se aproxima não. Nem vem com lero-lero, igual naqueles filmes que o policial vem chegando cheio de conversa e, de repente... Ninguém vai me fazer desistir não. Fica aí, se não eu pulo agora mesmo. Tou avisando.
— Vim te fazer desistir nada, menina. Eu vou é pular também.
Inseguro, e com medo de ser morto por uma letra ruim, voltei ao médico
Certa vez, um jornal noticiou que, durante um tiroteio, haviam morrido “cinco pessoas e um mendigo”
Se preocupa não, amor. Vai ver que vão te dar um aumento de salário.
Juliano chega em casa, e desabafa com a mulher, Isadora.
— Sabe o Pauloca, lá do escritório, um que cuida dos computadores?
— Mais ou menos. Que que tem ele?
O fato é que tentei ficar famoso trabalhando, não consegui; escrevendo, não consegui. Fiquei famoso andando na rua. É o Brasil!
Todas as pessoas que se atrevem a avaliar minha idade me dão de cinco a dez anos a menos. Talvez sejam maus observadores, talvez sejam apenas generosos ou, e esta é a hipótese que mais me agrada, realmente eu pareça mais jovem do que sou.
O fato é que dentro de no máximo 30, 40 anos, já não terei mais idade nenhuma. Serei apenas uma foto que ficou esquecida em alguma gaveta, vaguíssima lembrança, nuvem, poeira cósmica, eternidade.
Posso, sem medo de errar ou mentir, contar para meus filhos e netos que enfrentei o regime militar de peito aberto
"Diante de coisa tão doida/Conservemo-nos serenos.
Duas importantes marcas do nosso tempo, talvez as duas mais importantes, são a velocidade e a mutabilidade. Isso quer dizer que tudo muda incessantemente, e muda numa rapidez nunca antes vista na história humana.
Que tudo muda neste mundo é fato que dispensa argumentação, a mais simples observação da realidade o comprova. Já o poeta Camões dizia que “Todo o mundo é composto de mudança”, para, no fim do soneto, lamentar que "não se muda já como soía".
E lá estava a prótese, todos os grampos brilhando, como se nada lhes houvera acontecido
Perguntei ao Tetéo se ele se lembrava de onde a gente estava antes de mamãe ser a mãe da gente