Colunas
Do que eu gosto mesmo
Como assim eu não gosto de futebol? Por que então o coração começa a palpitar já na véspera de um jogo importante, ou mesmo de uma partida normal, desde que tenha a Estrela Solitária envolvida? Por que então trocamos momentos de lazer — e até mesmo compromissos — pelo simples prazer de assistir o preto e o branco colorirem as nossas vidas durante pelo menos 90 minutos (e o jogo nunca termina no apito final)? Pela sensação de entrar em campo e jogar junto, de transmitir o nosso sentimento no bater das palmas, bailar das camisas, na imposição de cada uma das peças do mosacio, faxias de mão ou escudos, no entoar das canções, sobretudo o mais belo hino já escrito em todos os tempos?
Por que então a gente acorda com inúmeras mensagens no celular, discute com amigos sobre a melhor formação, lembra com emoção dos momentos de glória e com boa dose de ira os de decepção? Por que, em meio aos nossos pensamentos, durante o dia e antes de dormir, há sempre um considerável espaço para o “será?” que vamos conseguir, que venceremos, que é melhor três volantes ou três atacantes?
Por que desde pequeno nós sentimos algo diferente quando a camisa listrada em alvinegro, a Mais Tradicional do país, entra em campo? Por que a gente entra diariamente em sites de notícias em busca de informações, novidades, ou atualiza o portal do sócio-torcedor para verificar a evolução do programa? Por que esperamos ansiosos pela abertura da possibilidade do check-in para o próximo jogo? Ou compramos uma camisa na pré-venda, antes mesmo de conhecer o modelo que será adotado para a temporada? Por que não passamos por determinada rua ou vestimos aquela roupa na semana ou dia de jogo?
Simplesmente por que a gente não gosta de futebol. A gente gosta é do Botafogo. E essa definição do jornalista e escritor Lucio Rangel resume bem o que sentimos. No universo de General Severiano não é preciso contar número de taças e ainda ter o mesquinho trabalho de comparar com rivais para demonstrar grandeza. O que foi conquistado ao longo dos últimos 113 anos – e até o que não foi – é suficiente para colocar o Botafogo de Futebol e Regatas entre os 12 maiores clubes de todos os tempos.
Sim, porque os “poréms” também compõem a magia que envolve o clube. Nem 21 anos foram suficientes para retirar uma vírgula da incomparável trajetória. Pelo contrário. Apenas reforçaram a capacidade de reinvenção a partir do quase “nada”. E só são capazes de serem “fênix” por tantas vezes aqueles que são imensuráveis e blindados a qualquer tentativa de diminuição por parte de quem quer que seja. Então, a mendigaria dos números e invenções como “Maior de não sei o que”, “mais vezes não sei o que lá”, “Rei de não sei aonde” nós deixamos pra quem precisa, não tem história ou necessita de auto afirmação a todo momento (sem referências, apenas para quem servir a carapuça. Até porque aqui se reconhece a importância de todas as outras instituições esportivas do Rio e do Brasil).
Há quem ainda se surpreenda, talvez, quando a FIFA reconhece a atuação do jogador chamado torcida. Assim como aconteceu diante do Barcelona, e vai acontecer contra o Nacional. Não foi preciso pedir ou ter matéria em programa esportivo para ser exaltado. É natural. Simplesmente porque todo mundo conhece, acompanha, Reconhece. Futebol, sem Botafogo, não seria o futebol que conhecemos. Esse futebol que eles gostam. Porque eu gosto mesmo é do Botafogo.
A galeria de troféus do alvinegro Mais Tradicional, que carrega em duas cores básicas aquelas que são capazes de ofuscar qualquer aquarela, é suficientemente recheada para fazer do clube o Gigante que é. Há quem precise fazer espetáculo em cima de taças outrora desprezadas, mas aqui não. Quem assim o faz jamais vai ter ideia do que é torcer pelo Botafogo. Esse, de fato, é um privilégio que cabe apenas a quem é escolhido. Graças a Deus por isso! Graças aos Deuses! Graças a Garrincha, Nilton Santos, Túlio Maravilha e tantos outros.
Então, dia 14 tem jogo. No dia 18 também. Se é de Campeonato Brasileiro ou Libertadores, para este que vos escreve, é detalhe. O que importa é que o Botafogo vai jogar. É futebol? Outro detalhe. Desde que a Estrela Solitária esteja envolvida lá estaremos, mais uma vez, pulsando dentro de um Nilton Santos repleto. Juntos nós vamos buscar a classificação antecipada, e mais uma vez, calar aqueles que insistem em duvidar do Glorioso. O Botafogo precisa da gente, extamente porque nós precisamos - e não vivemos sem o Botafogo.
Saudações alvinegras, e até a próxima...
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário