Fazer aniversário é ter seu ano novo particular. Celebrar a abertura de um novo ciclo de doze meses, cinquenta e duas semanas, trezentos e tantos dias em milhares de novas horas. Fazer contas para se descobrir o futuro na numerologia ou se entender pela astrologia. Mas compreensão mesmo vem no olhar para dentro de si mesmo. A única receita certeira para se descobrir.
Palavreando
Palavreando
Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.
Minha rua é extensa e se estende para onde os meus olhos não podem ver. Minha rua não termina onde começa o horizonte, mas por mais que eu me esforce, não consigo alcançar o seu fim. Finita em si mesmo, interminável em minhas suposições particulares.
Cheia de esquinas e becos, cada paralelepípedo seu guarda uma história, conta um segredo, esconde um mistério. E assim devem ser todas as ruas, mesmo aquelas menores e as que sequer têm paralelepípedos.
Amizade é frase feita. Amizade é canção. Amizade é o exemplo nos famosos que nos vemos. Amizade é amor que a gente chama pelo nome. Difícil definir amizade... Cada amigo é um, assim como é única a relação que temos com cada um deles. Ainda que seja amor tudo aquilo que chamamos de amizade, cada uma tem a sua particularidade e multiplicidade. Por isso, talvez seja amor tão diverso e que nos complete tanto. Talvez, por tudo isso, seja o amor menos complicado, mas também o de mais complexa descrição.
Paz só me serve se for para trazer e manter semblante leve, próprio dos que sorriem com as covinhas do rosto, sem necessariamente ter que exibir os dentes. Paz é leveza. Paz é viver a vida abundantemente. Não de coisas materiais que nos pesam os ombros, enchem os bolsos e deixa vazio o coração. Mas abundância no prazer de caminhar com os braços soltos e a mente disposta a aprendizados. Livre de preconceitos. Aberta à escuta. Talvez paz tenha muita proximidade com liberdade. Talvez paz e liberdade sejam tão próximas que sejam uma só. Não há, de fato, como serem contraditórias.
Zero hora. Até o dia começa do zero. Começar do zero. Como começar do zero se trazemos com a gente uma série de histórias e situações? Dizem que até um bebê que acabou de nascer traz consigo as conversas da barriga, as energias da mãe e do ambiente. Mas é possível começar ou recomeçar do zero. Como qualquer dia começa também. Aliás, como eu gostaria de voltar a ter vinte e tantos anos, desde que na condição de retornar uma década com o que sei hoje. Seria bem mais fácil. Cometeria menos erros. Talvez, outros erros.
Eu nasci onde havia de nascer. Onde se nasce, inicia-se a construção da pessoa. Não que isso determine de que material serão esses alicerces. Nem que a essência primária produzirá todo o resto dos dias. Estamos em evolução enquanto ebulição. Mas o lugar que surgimos, por óbvio - seu ambiente e lógica própria - nos permite ou não. Talvez, tenha eu confrontado a realidade imposta a mim para ser quem deveria ser.
Será que cada um de nós tem mesmo uma missão? Um motivo objetivo para estar aqui nesse espaço e tempo determinados? Será que somos mesmo tão importantes?
O prazer da vida é não fazer da vida uma tarefa. Por isso, coleciono dias e desses dias – horas. Algumas são fáceis de colecionar, outras nem tanto. Repetidas? Qual o problema das figurinhas repetidas? Sevem para bafo-bafo ou troca.
Não acredito que exista significado para a morte de alguém. Mas acredito que seja significante a vida desse alguém. Muito mais importante é o que representa a sua existência e não o fim dela.
(Inspirado no musical Eros, de Rebecca Noguchi)
Esse tal de amor... Ah! Nos cativa, nos faz cantar, nos faz chorar. Nos faz experimentar os verbos para além das suas próprias etimologias. Esse tal de amor que tanto nos dá, tanto nos tira e sempre nos constrói - mesmo destruindo. Devassa o ser para avassalar a alma. Desperta. Adormece. Nunca aquieta, ainda que fique lá sussurrando - à espreita.
Nós à espera de serem desatados ou à espera para mais uma amarra que confunda e/ou desafie. “Decifra-me e não garanto que me conhecerá!” Esse tal de amor...
Eu namoro menino. Ela namora menina. Ele namora menina. Ela namora menino. Se algumas das realidades te assusta - eu entendo - ainda que o amor não tenha que causar espanto a ninguém. Se o começo te incomoda para ler até o final – faço o apelo de que fique e compreenda: o amor não tem gênero, o amor merece respeito.
Queria você aqui. Acariciando meus cabelos e fazendo carinho em mim. Imagino a gente na sala discutindo que filme ver: terror ou comédia romântica? Após você ter cedido ontem, vou esperar que me proteja hoje dos sustos que vou levar. Mais tarde, quando nos deitarmos, sei que vai estar ali, abraçado comigo, me defendendo de todo o mal e eu te defendendo, inclusive de mim mesmo.