Colunas
Amor é simplesmente amor – simples assim
Eu namoro menino. Ela namora menina. Ele namora menina. Ela namora menino. Se algumas das realidades te assusta - eu entendo - ainda que o amor não tenha que causar espanto a ninguém. Se o começo te incomoda para ler até o final – faço o apelo de que fique e compreenda: o amor não tem gênero, o amor merece respeito.
Fico imaginando minha mãe lendo: “eu namoro menino”. Acho que não é questão de escolha, porque se pudesse escolher, certamente iria pelo caminho mais prático e fácil. Fácil deveria ser a escolha de ser feliz! A autossabotagem não só nos magoa, como machuca quem está à nossa volta. A verdade traz leveza que flutua. E, então, depois de muito gritar aquilo que fica ali aquietado escapole. Não é porque está aquietado que não exista e persista o chamado para ser quem se é. Amar quem se quiser amar de acordo com a sua legítima vontade. Fazer o amor ser fácil, porque nada melhor do que amar.
Não se trata de julgamento: condena ou absolve. Não se trata de avaliação: aprova ou reprova. Amar não requer esses crivos. O amor não pode entrar nessa seara contemporânea, onde todos se veem incitados a ter opinião sobre tudo. Amor é simplesmente amor – simples assim. Ainda que o caminhar do menino namorar menino ou menina namorar menina seja mais complexo do que os relacionamentos héteros, ambos não têm diferença alguma no que tange ao sentimento.
É a conquista, o cheiro, o olhar, o abraço, a dúvida. É o cuidado, o afago, o querer voar para o abraço ou para voar no pescoço mesmo e esganar o sujeito para depois carinhar e pedir desculpas. É o querer estar perto e junto. É o tanto de coisas que não se quer, mas que se adapta. É a pipoca no cinema e o encurralar no carro. É o bilhetinho na geladeira ou a letra torta no espelho embaçado do banheiro. É ter planos ou mesmo planejar a ausência de planos. É a entrega e o deixa pra lá. É saudade do ontem no hoje e a crença no futuro. Amor é amor em qualquer circunstância, em toda forma, em qualquer encaixe ou jeito. E, cada um ama quem se quer amar para ser e fazer feliz. Ser feliz, às vezes, só exige mais coragem para uns do que para outros.
Menino namorar menino ou menina namorar menina só é complicado porque vivemos numa sociedade vigilante e sempre propensa a querer ter razão. Razões individuais que provocam dor e preconceito. Como o amor pode provocar dor ou preconceito? Não deveria e só atinge a quem não entende a beleza do amar. Por isso, há que se sonhar com um lugar em que ninguém seja estereotipado ou adesivado por sua sexualidade ou por amar quem se quer amar. Orientação sexual não define caráter, não estipula ética ou determina competência. Hipocrisia, sim. E hipocrisia esquece que viver é tão lindo. A hipocrisia está sempre tão incomodada com os outros que esquece, deliberadamente, de limpar o próprio umbigo.
O amor é uma busca que continua mesmo quando encontramos o certo alguém que nos floresce o peito. Certo alguém que pode ficar para o sempre que dura o sempre ou mesmo o sempre que nos serve felicidade cotidiana enquanto consegue se servir aos dois. A fórmula do amor não é única, mas sua base sim: estar de bem consigo mesmo somado à liberdade de estar ali, livremente, multiplicado pela admiração ao quadrado (você e o outro).
Eu namoro menino. Ela namora menina. Ele namora menina. Ela namora menino. Não importa quem você namore, quem você procure, quem você queira. O que vale mesmo é amar, liberdade para amar e ser feliz. Porque o amor não tem gênero. Amor é simplesmente amor – simples assim.
Palavreando
Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário