Colunas
Coleção de dias
Será que cada um de nós tem mesmo uma missão? Um motivo objetivo para estar aqui nesse espaço e tempo determinados? Será que somos mesmo tão importantes?
O prazer da vida é não fazer da vida uma tarefa. Por isso, coleciono dias e desses dias – horas. Algumas são fáceis de colecionar, outras nem tanto. Repetidas? Qual o problema das figurinhas repetidas? Sevem para bafo-bafo ou troca.
Não acredito que exista significado para a morte de alguém. Mas acredito que seja significante a vida desse alguém. Muito mais importante é o que representa a sua existência e não o fim dela.
Somos seres em expansão. Carregamos em cada um de nós estrelas e galáxias que se estendem ao infinito. Ainda que não seja possível a todos a compreensão, é nos dado o direito de imaginar acerca do mistério que é ser e estar.
Somos e estamos aqui. Não em outro lugar. Não em outro tempo. Seríamos escolhidos? Escolhemos nosso caminhar pelo destino.
Afetar, mexer, mudar a vida de quem está à sua volta e de tantas outras que você nem conhece. Atropelamos e somos atropelados. Há que se tocar as almas e tocamos, muitas das vezes sem saber. Mudamos os rumos e nossas rotas se alteram também. Seja pelo olhar para dentro, seja pelo olhar para fora, seja pelos olhares que nos olham. Ouviremos o que dizem? Muitas das vezes, a fala vem no oculto da poesia. Sussurros ao pé do ouvido. Gritos longínquos que nos chegam com derrames de euforia ou melancolia.
Sorrir e chorar faz parte do andar de cada um. Viver é uma escolha única. E, como viver é múltiplo. Será que cada um de nós tem mesmo uma missão? A primeira missão, certamente é viver. E viver em abundância. Não argumento a favor do exagero, mas apelo ao sagrado objetivo da felicidade. Assim, o tempo de sonhar é todo dia, o tempo de amar é toda hora. Nada melhor para ampliar a coleção de dias e fazê-la bela.
Tenho coleção de frases soltas. Nossas esperanças só podem morrer se consumadas. É preciso coragem para assumir que tem medo. Eu não quero dormir. Eu já disse: não gosto de ir dormir, tanto quanto não gosto de acordar cedo. Mas quando acordo, tenho aprendido a pedir e agradecer.
Se for para sair, até saio sozinho. Gosto do barulho da chuva. Gosto ainda mais do cheiro que a chuva traz. Louvo esse ar de nostalgia temperado pelas cores das ruas refletindo o céu. Lua de inverno é tão linda. O véu da madrugada me contagia. Sua solidão me faz menos triste e mais perspicaz. Nunca menos ingênuo, no entanto. De tantos tantos, sou acaso que acontece, sou acontecimento que nem sempre se noticia. E você?
Somos tão iguais, né? É preciso coragem para assumir que tem medo. Repito para mim mesmo. Mas existem além daqueles que assumem ter medo, aqueles que fingem que nada é perigoso.
E na minha coleção, tão exclusiva quanto a sua, fantasio paixões para produzir saudades. Minto coisas que não machucam ou afetam a mim, nem a ninguém. Finjo para mim mesmo que são verdades verdadeiras. O que diz me agrada, mas o que ainda não fez me angustia tanto quanto me atiça.
Assim, as horas vão cumprindo o seu destino e meus sentimentos apelam para que os minutos sejam mais justos do que bons comigo. Para a minha coleção de dias. Não estou pedindo nada além daquilo que mereço. Eu não peço para voar. Agradeço pela busca de ser feliz.
Palavreando
Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.
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