As enchentes sempre fizeram parte do cotidiano de Nova Friburgo. A vila de Nova Friburgo, criada em 1820, nas proximidades do rio São João das Bengalas, passaria toda a sua história lidando com as inundações desse rio. E como os friburguenses lidavam com esse infortúnio no passado remoto? Para responder a essa questão, utilizaremos como fonte os códigos de postura do século 19, nosso recorte temporal. O código de postura era uma espécie de lei orgânica municipal. A primeira fonte que localizamos prevendo situações de sinistros, como as enchentes e incêndios, foi o Código de Postura 1849.
História e Memória

Janaína Botelho
História e Memória
A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.
Diante da catástrofe natural ocorrida entre os dias 11 e 12 de janeiro de 2011, Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis se irmanaram na dor das perdas humanas e materiais. As três cidades serranas habituadas a ter seus nomes estampados na imprensa como aprazíveis locais de veraneio, se viram numa macabra estatística no qual Nova Friburgo encabeçou a lista fúnebre com o maior número de mortos e de perdas materiais. Autoridades governamentais desses municípios se solidarizaram e igualmente a população dessas regiões.
Maria Elvira Veloso Serafim nasceu em Duas Barras em 4 de maio de 1915. Aos 96 anos de idade, possui 18 netos, 26 bisnetos e 3 tataranetos. Elvirita, como é conhecida, viveu um cotidiano bem diferente de seus bisnetos e passou por diversos períodos de transformações sociais e econômicas em seus quase um século de existência. Seu avô, o português Joaquim Gonçalves Corguinha, veio de Portugal no final do século 19 para Duas Barras e juntamente com o irmão adquiriu uma fazenda na região, dedicando-se à cultura do café. A terra era muito barata naquela época.
Antonio Francisco de Menezes Wanderley foi o maior intelectual do final do século 19 e início do 20 em Nova Friburgo. Natural do Estado da Paraíba do Norte, residiu na capital federal onde trabalhou em diversos jornais. Do Rio de Janeiro veio para Nova Friburgo contratado para dirigir o periódico O Friburguense. Foi então convidado para ser professor do Lyceo Nacional, do Instituto Sul-Brazil e do Externato América. Abriu uma escola noturna gratuita na cidade para alfabetizar aqueles que labutavam durante o dia.
Em novembro de 1857 um circo instalado no Campo de Sant’Ana, no Rio de Janeiro prometeu mostrar ao público uma corrida de touros. Apresentaram, em vez disso, dois bois magros, que por mais cutiladas lhes dessem, não saíam do lugar. O público irado, sentindo-se enganado, colocou fogo no circo. As corridas de touros e as touradas eram atrações que atraíam grande público até o primeiro quartel do século XX. O que para nós atualmente expressa uma verdadeira barbárie contra os animais, os Circos de Touros ou Circo Tauromático eram uma verdadeira coqueluche em Nova Friburgo.
Normalmente se reconhece um apaixonado por sua escola de samba quando se chega, sem marcar hora, para fazer uma entrevista, como foi o meu caso, e encontra o sujeito com a camisa do “Grêmio Recreativo da Vilage”, a verde e branca. Foi assim que encontrei, com a camisa de sua escola, recostado na janela, Luiz Leônidas do Nascimento. Nascido em 1932, morou a vida inteira na Vilage. No passado, recorda-se que próximo à sua casa ficava a chácara do Manoel Rodrigues, onde havia plantação de uvas e fabricação de vinho branco.
No dia 11 desse mês de junho, um anúncio no jornal O Globo trazia os seguintes dizeres: “Rendas Arp. Fundada em Nova Friburgo pelo Conselheiro Peter Julius Ferdinand Arp, imigrante alemão, a Fábrica de Rendas Arp completa, neste sábado, 100 anos de existência. Líder no segmento de bordados no Brasil (...) a empresa é administrada pela 5° geração da família Arp (...) [e] demonstra pelo seu centenário uma prova de superação. Queremos partilhar com nossos clientes e funcionários o sucesso desses 100 anos”.
A primeira referência de carnaval em Nova Friburgo pode-se aferir do Código de Posturas de 1849, em seu art.137: “É absolutamente proibido o jogo denominado entrudo”. O entrudo é um antigo folguedo carnavalesco em que os foliões molhavam-se reciprocamente lançando água de baldes ou limões-de-cheiro ou então atiravam farinha numa espécie de batalha. Limões-de-cheiro ou laranjas-de-cheiro era o nome pela qual eram chamadas as pequenas bolas de cera recheadas de água perfumada.
“Aviso Importante: vai ser aberto o recrutamento. Previnam-se no sábado, antes do toque de aleluia, não saiam à rua os homens marca gigante...” Foi assim que o jornal O Friburguense noticiou a possibilidade de um recrutamento em 1893, em Nova Friburgo. Mas por que o alarde quanto ao recrutamento militar? Na realidade, o problema consistia principalmente nos “braços” para a lavoura que as famílias perdiam ao ter filhos e até maridos recrutados. Logo, quando corria o boato de recrutamento, os filhos dos agricultores escondiam-se nas matas com o auxílio da família, como verdadeiros fugitivos.
Era o dia 12 de fevereiro de 1825, quando um grupo de cinco soldados mercenários alemães, acorrentados uns aos outros, passou pela pacata vila de Nova Friburgo, despertando a atenção dos moradores. Acusados de deserção e presos em Cantagalo, eram transportados por praças sob o comando de um sargento, que os conduzia ao Rio de Janeiro. Na vila, fizeram uma pequena parada no quartel e curiosamente a partir de então passaram a ser seguidos por um colono alemão chamado Heinrich Bourgignon. De repente, ocorre algo estranho quando o grupo passa pela “vilagem dos alemães”.