Ridicularizar e demonizar os ritos religiosos dos diferentes não é exatamente uma novidade. Sempre houve esse tipo de violência na história. A religião do império da vez sempre se auto-usurpou o título de verdadeira. E sempre se lançou numa ofensiva contra o diferente. A violência simbólica (e a ofensiva contra os símbolos) é uma arma, por vezes, mais potente que as de fogo.
Educação e atualidades
As atividades sobre os 200 anos de Nova Friburgo têm me feito pensar também em temas da contemporaneidade. Refugiados e intolerância, por exemplo.
O jeito moderno de permanecer primitivo
É lugar comum que o ser humano seja um ser racional. E que é sua inteligência argumentativa que o torna singular. Mas é curiosa a diferença de sensação que temos diante de uma história contada ou de uma explicação dada, por exemplo. Amamos as histórias e seus enredos. Mas nos cansamos muito rapidamente com teorias e argumentos. Somos capazes de ler, ver ou ouvir uma história repetidas vezes. Às vezes, a vida inteira. O mesmo não ocorre com argumentos e teorias.
As relações humanas são pautadas basicamente nas palavras. No que se diz e no que se ouve. No como se diz e no como se ouve. É semelhante a um jogo de dizeres e de ideias; de humores e afetos.
No fundo, as relações são experiências de oportunidade. Sim, experiências que têm a ver com a forma como tratamos as oportunidades que nos vêm.
Oportunidade é uma palavra linda. "Ob-portus". Tem a ver com os ventos que levam a embarcação na direção do porto. Por isso, há sopros oportunos e inoportunos.
Insisto na tese de que “a forma” de que se diz é tão importante quanto “aquilo” que se está dizendo. Aliás, mais do que isso: o meio faz parte da mensagem.
A ideia de que o meio “é” a mensagem foi defendida por Marshall McLuhan - educador, intelectual e filósofo canadense, que viveu entre 1911 e 1980. Uma tese, inclusive, que nunca fez tanto sentido e esteve tão atual. Pare ele, o meio não é um simples canal de passagem do conteúdo, mero veículo de transmissão da mensagem. O meio, a forma são elementos determinantes da comunicação.
Isso é bom e ruim ao mesmo tempo.
Há uma decisão do governo municipal em Nova Friburgo de passar a poder reprovar estudantes já no 2º ano do Ensino Fundamental. Os argumentos básicos são os de que a nova BNCC recomenda a alfabetização até essa etapa, que há um clamor de professores sobre isso e de que essa medida promoveria maior aprendizagem.
Diante da proposta, valem reflexões a respeito.
Há uma memória saudosista no imaginário brasileiro: a boa escola é a escola que reprova. O professor que com mais rigor cobra de seus alunos e que mais reprova é tido como aquele que melhor ensina.
Há uma polarização equivocada sobre socialismo e liberalismo e, em algum sentido, sobre esquerda e direita. Por causa de governos corruptos e manobras que só atendem a interesses de uns poucos privilegiados, ou misturamos tudo como se fosse a mesma coisa, ou distinguimos tudo como se do outro lado nada prestasse.
Há alguns comentários sobre os recentes bombardeios na Síria e uma interpretação de que seriam cumprimento de profecias bíblicas (Is 17, p.ex.). Em outras palavras: obra de Deus.
Parte da ideia que a Síria do texto é a mesma Síria de hoje e que ambas são merecedoras da ira divina.
Isso revela desconhecimento nas áreas de história, exegese, hermenêutica e teologia. É de um anacronismo absurdo e ignorante.
Além disso, esse tipo de interpretação da Bíblia carece de humanidade mesmo. É muita falta de compaixão, para dizer o mínimo. Esbarra no sadismo.
Viajei para o Deserto do Atacama dias atrás. Era um sonho. E, em algum sentido, uma aventura. De moto, a viagem exigia muito planejamento, preparo físico e psicológico, e uma boa dose de perseverança.
Política é, em essência, a arte de gerir a cidade. Cidade compreendida como a reunião das pessoas. Por isso, política deve ser, por princípio, voltada para a pessoa em sua individualidade e para as pessoas em sua coletividade.
O grande desafio político, portanto, é a capacidade de gerir e prover as necessidades da coletividade, sem, todavia, perder de perspectiva a singularidade de cada pessoa.