Tempos atrás recebi uma mensagem pelo celular com uma imagem de um cachorro dando um salto num precipício tentando abocanhar uma ave. O autor dela colocou junto da imagem três frases como lições que podemos aprender ao olhar a foto. Refletindo sobre a atitude do cachorro e sobre as três lições mencionadas, pensei numa quarta lição.
Saúde Mental e Você
Cesar Vasconcellos de Souza
Saúde Mental e Você
O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.
Recebi pela internet a mensagem: Interpretação de texto nos dias de hoje – Você posta nas redes sociais o seguinte anúncio: “Olá! Meu nome é André e eu vou vender bolo de cenoura hoje, das 14h às 17h. Cada fatia custa R$5,00. Interessados podem entrar em contato pelo 99999-9999.” Daí em seguida as pessoas perguntam: “O bolo é de quê?”, “Quanto custa?”, “Posso buscar às 18h?”, “Como faço para comprar?”, “Com quem eu falo?”
Todos temos dores. Físicas ou emocionais ou espirituais. Ou uma mistura disto. Geralmente tentamos fugir de nossas dores. Sentir dor, dói. Mas precisamos aprender a lidar com nossas dores de uma forma corajosa.
Faz muita diferença se olharmos nossos sintomas como sendo amigos e não inimigos. Pode ser dor de cabeça, tristeza, dor de estômago, ansiedade, etc. Os sintomas, vamos chamar de “dores”, são amigos. Claro que é ruim ter problema de saúde. Quando você está dirigindo seu carro e acende alguma luz vermelha no painel – que é um sintoma – isto é ruim ou é bom?
Existe alguém sem angústia? Ou existem pessoas sem percepção dela? Que dor é esta que incomoda tanta gente boa e má, rica e pobre, bem ou mal-sucedida profissionalmente, famosa ou desconhecida, religiosa ou irreligiosa?
Doenças mentais graves tais como esquizofrenia e transtorno bipolar raríssimas vezes surgem repentinamente. Geralmente familiares, professores e amigos notam, ou a própria pessoa começa a reconhecer algumas mudanças em seu comportamento, experimenta um sentimento meio esquisito, percebe que sua forma de pensar não está legal, antes de entrar numa doença mental complicada.
Será que o uso de marijuana (maconha) pode alterar o cérebro e produzir sintomas típicos de uma psicose (loucura)? Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Montreal no Canadá estudou os efeitos da maconha em jovens procurando ver se seu uso favorecia o surgimento de experiências tipo psicóticas. (Josiane Bourque, Mohammad H. Afzali, Maeve O'Leary-Barrett, Patricia Conrod. Cannabis use and psychotic-like experiences trajectories during early adolescence: the coevolution and potential mediators. Journal of Child Psychology and Psychiatry, 2017).
Conhece a declaração: “Dor é inevitável e sofrimento é opcional”? Já leu ou ouviu isto? É mesmo verdade? Há sofrimentos evitáveis? E quanto às dores? Podemos evitar algumas delas pelo menos? Vamos pensar.
Há uma complexidade nas causas do sofrimento humano. Há tantas perguntas sem respostas, e também perguntas difíceis de serem feitas, não é? E há respostas difíceis de serem aceitas. Igrejas prometem a eliminação do sofrimento e pregam o enriquecimento material. Dá para eliminar o profundo sofrimento humano chamado de angústia existencial? Enriquecer materialmente elimina a angústia, o sofrimento e a morte?
Estudos (Aron 2005) têm descrito que há uma interação entre a sensibilidade ao processo sensorial e fatores negativos no ambiente infantil que conduzem para problemas afetivos como medo, ansiedade e depressão, o que, por sua vez, promovem a timidez.
Pia Melody, em seu excelente livro “Enfrentando a Codependência Afetiva”, diz que nós, seres humanos, somos perfeitamente imperfeitos. Maturana afirma que temos o direito de mudar de pensamento, o direito de errar e o direito de ir embora. Isto tem um gosto de liberdade dentro de nossa extrema limitação e fragilidade humanas. Não podemos, definitivamente, estar certos, ser fortes, não falhar, o tempo todo. Não admitir isto é estar num caminho de certa cegueira mental. Aquele que não sabe que não sabe, pensa que sabe.