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O mundo não é bipolar
Que enfadonha essa tentativa de dividir o posicionamento e as opiniões das pessoas em esquerda ou direita, certo ou errado, bem ou mal, sim ou não, como se não existissem inúmeras visões e interpretações sobre os mesmos fatos, como se a vida fosse polarizada. Não, não é.
Não é porque você está certo que eu estou errada. E vice-versa. Tudo tem mais de um lado, que não só o seu ou o meu. Há liberdade de pensamento, de crenças, de ideologias políticas, de filosofia de vida, embora tanta gente teime em categorizar a vida em apenas dois lados. Não é bem assim, não é sempre assim. Cada um tem a sua formação familiar, educação, sua história de vida que inevitavelmente guiam sua visão de mundo e seu caminho em determinada direção. Isso não cega cada um de nós para enxergarmos os demais caminhos.
As convicções de um ser humano são fruto de uma construção de uma vida inteira. Não é a televisão. Não é culpa do professor. Não é o político X, o filósofo Z ou o amigo Y. Não somente. É a bagagem de vida, são os pensamentos, os valores, as vivências que livremente fazem parte de nossas existências e nos transformam no que somos: seres múltiplos, complexos, diferentes.
A vida não é polarizada. Não é porque ele é vegetariano que deve odiar quem come carne. Não é porque defendo o certo que não vou errar nunca. O ideal é que não seja assim, sob pena de nos tornarmos uma sociedade contaminada pelo ódio e pela intolerância. Não é por você não estar feliz no dia de hoje que estará necessariamente triste. Há vertentes entre esses dois polos de seu estado de espírito e são essas nuances que nos tornam seres verdadeiramente humanos e únicos que devem ser respeitados e cuidados.
Tempestade ou insolação. Legal ou chato. Direito ou medicina. Inverno ou verão. Flamengo ou Fluminense. Lula ou Bolsonaro. Preto ou branco. Não. Pensem no quanto seria sem graça o mundo assim e no quanto as relações interpessoais se tornariam pobres e desinteressantes se não valorizássemos as múltiplas cores, os múltiplos tons que cada variante pode agregar a elas.
Visitando as redes sociais não raras vezes percebemos que alguns grupos de pessoas parecem ter criado padrões preestabelecidos, como duas caixas prontas para que nelas caibam todas as pessoas, coisas e pensamentos do mundo. Ou se encaixa na caixa A, ou fatalmente vai ter que encaixar na B.
Há infinitas caixas e há os que não se encaixam e nenhuma delas, da mesma forma que há os que pertencem a várias delas. Se imaginássemos caixas de verdade, na minha opinião, quanto mais bagunçadas, melhor seria sua formatação, pois sinceramente não é possível enquadrar seres tão complexos como felizmente somos nós, em caixinhas padronizadas.
A interação entre todos seria muito mais civilizada (sempre bom lembrar que vivemos em uma civilização e somos parte dela) se pautada pelo respeito à diversidade de crenças e opiniões. Eu penso assim e respeito que você pense de forma diversa, e convivemos muito bem. Simples assim.
Paula Farsoun
Com a palavra...
Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
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