Colunas
Viajar para a eternidade
A vida, se estiver atento, nos dá a possibilidade de fazer viagens incríveis sem pegar ônibus, trem, carro ou avião. Viagens sem sequer sair do lugar. Descobre-se então que a melhor viagem que se pode fazer é nas pessoas.
Elas chegam com suas bagagens. Nós estamos ali, com nossas tralhas. Se tivermos peito aberto, a viagem então começa e pode ir longe, muito longe... Para a vida inteira, quiçá para a eternidade.
Sonhos, expectativas, medos, experiências, vivências, emoções, até podem ter sotaques diferentes, tons de vozes diversos, mas sempre são envoltos nos mesmos anseios.
Buscamos de certa forma as mesmas coisas, de jeitos e modos diferentes, dando nomes diversos para o que pode ser definido em infinitas possibilidades. Um dicionário inteiro para apenas descrever felicidade. Mais do que uma palavra. Mutável e dinâmica. Avessa à constância ou permanência. Vem e vai e se transforma, como e com o nosso olhar e o entrelaçar desses olhares.
Assim, de repente, nos vemos nessa viagem como iguais e percebemos: não estamos sozinhos. Temos tanto em comum, mesmo sendo singulares, em meio à essa vontade de contagiar e contagiar-se dessa força que faz cantar e dizer: é, é possível!
Só há uma forma para se viajar à eternidade. Tanto como condução, como conduzido. Através das pessoas. Somos passaportes uns para os outros para não esquecer e ser inesquecíveis. Somos passos de nós mesmos e caminhar para aqueles que, atentos, se dão o direito de viajar mais do que pelo conjunto de células que forma cada corpo. Há muito para além da matéria que a ciência tipifica.
Como mantra há de se repetir para si mesmo: Deus, que eu me recorde... Que eu possa lembrar e essas memórias sejam sempre presentes para me fortalecer. Afeto. E a cada vez que o mundo disser não, que esses instantes de viagem plena pulsem no peito para que se diga: sim! Para que se insista: eu vou!
Não há outro modo de viajar até a eternidade senão através das pessoas. E é preciso se vestir da consciência de que as imperfeições é que aperfeiçoam esses encontros. É uma tolice da modernidade a ideia de que devemos ser felizes o tempo todo. Respirar não é sobreviver. É, muitas vezes, perceber e se perceber. Percebe?
Renegue a imortalidade e mergulhe, não em direção à eternidade, mas no que faz real a possibilidade de existência da eternidade: nas pessoas. Que a busca maior jamais termine!
Palavreando
Aos sábados, no Caderno Z, o jornalista Wanderson Nogueira explora a sua verve literária na coluna "Palavreando", onde fala de sentimentos e analisa o espírito e o comportamento humano.
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