Colunas
Arrepios dos pés à cabeça
Na semana passada, fui ao Colégio Estadual José Martins da Costa conversar com
os alunos a respeito da literatura fantástica ao lado da escritora Ana Beatriz Manier, da
historiadora Maria Janaína Botelho e da editora Amanda Lobosco. A sala estava lotada
de alunos e professores que demonstravam interesse por esse gênero literário que
emerge do universo fantasioso, cujas histórias podem ser criadas ou estar relacionadas
a fatos narrados sem comprovação da veracidade dos acontecimentos. O crivo de
realidade é evidenciado apenas pela narrativa que pode ser bastante convincente.
Quando comecei a conversa, logo perguntei se alguém teria algo estranho a
contar. Alguns alunos imediatamente levantaram a mão. Ah, como a imaginação tem
fertilidade, podendo transformar uma mancha no teto na entrada de um túnel para
outra dimensão. Não é à toa que as crianças e os jovens adoram histórias que causem
medo, que abrem as portas da imaginação e que despertem as mais estranhas e
assustadoras sensações. Eles gostam de emoções impactantes. Sentem a pulsação do
coração e o corpo dinamicamente vivo diante de um perigo irreal.
Eu tenho a impressão de que gostaríamos de ter poderes sobrenaturais, de
desenvolver as capacidades de ver e ouvir além das possibilidades humanas, uma vez
que não somos satisfeitos com as nossas possibilidades físicas e mentais. Queremos
ser mais. Os protagonistas das histórias de terror têm superpoderes, podendo, por
exemplo, aparecer e desaparecer a todo o momento. Quem não gostaria de ser visível
e invisível? Eu adoraria, pois saberia de tudo.
Além do mais, as pessoas gostam de nos escutar quando falamos a respeito de
casos surpreendentes. Isso mesmo se pode dizer dos livros e filmes em que o suspense
aterroriza; os livros são vendidos e as salas de cinemas ficam lotadas, com as lixeiras
cheias de pacotes de pipoca. Na essência é uma literatura de puro entretenimento,
uma vontade de diversão emergente do gosto pelo sofrimento e por sustos.
Os escritores experientes, como o irlandês Bram Stoker, criador de Drácula, ou
da inglesa Mary Shalley, de Frankenstein, foram não somente capazes de delinear
personagens horripilantes que tocaram o mundo, como também souberam descrever
com minúcias os fenômenos especiais e assustadores que esses personagens puderam
realizar no âmbito ficcional. Estes, como tantos outros, saíram do universo literário e
foram transportados para o cinema, teatro e até para os jogos eletrônicos.
O importante é que a literatura de terror atrai o leitor e desenvolve hábitos
saudáveis de leitura. Atrai a criança e jovem nas horas livres, colocando-os em contato
com a língua portuguesa, desenvolvendo o potencial criativo de cada um e
estimulando o pensamento crítico. Mas não somente por isso, eles conhecem os
personagens, reconhecem os vilões e identificam os heróis. Desenvolvem o caráter.
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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