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O menestrel
Pouco antes de começar a escrever esta coluna, tive o conhecimento da morte de João Gilberto, o gênio da bossa nova, estilo musical que marcou época no Brasil e tocou o mundo.
A meu ver, seus músicos foram menestréis. Criaram uma canção que se canta com o coração, não somente pela melodia, mas pelas letras, tão românticas e poéticas, que expressam a simplicidade do amor e da vida. Da brisa de Ipanema.
O tempo da bossa nova passou e levou a poesia que declamava a cada música, misturando o jazz com o samba, o amor com a beleza da vida, o lúdico com a admiração pelo Rio de Janeiro. Pelo Brasil. Tom Jobim, Vinícius de Moraes e João Gilberto foram os poetas-músicos da década de sessenta e modificaram a música, cantada nos centros urbanos cariocas, na beira do mar, sob as amendoeiras das ruas. Uma música coloquial e descompromissada, fácil de cantar que se espalhou Brasil afora.
Você é mais bonita do que a flor
Quem dera, a primavera da flor
Tivesse todo esse aroma de beleza
Que é o amor
Perfumando a natureza
Numa forma de mulher
(Coisa Mais Linda, João Gilberto, letra e música)
A bossa nova não teria encantado tanto caso seus criadores não fossem líricos em suas composições. O violão, a flauta e o piano foram instrumentos empregados, o que dava um toque especial de completude às letras, tornando a melodia elegantemente estilosa. Eles se tornaram imortais porque penetraram no mais puro sentimento e na mais bela vontade de amar para torná-la eterna enquanto a volúpia do apaixonar-se estivesse aquecendo o anseio de ser feliz.
Vai minha tristeza
E diz a ela
Que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer
(Chega de Saudade, João Gilberto, letra e música)
Foi um tempo de amor, de sorriso e de flor, quando o leve compasso da bateria conquistou um cantinho em todos os lugares do mundo: nas festas, nos filmes, nos restaurantes. Seus admiradores têm sensibilidade para admirar a boemia, o encontro entre amigos e a poesia. Seus cantores buscam o tom e o ritmo da sensualidade e do encantamento pela simplicidade de ser.
Adeus, João Gilberto! Tive o privilégio de ter vivido na mesma época que você. Quem sabe, num tempo mais à frente, possa conhecer de perto seu talento.
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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