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Versatilidades
Quando cursei o Mestrado, estudei um autor com o qual senti afinidade,
Max Weber (1864-1920). Talvez por ele ter sido casado com uma feminista,
Marianne Weber ou por ele ter sido um homem que eu considerava bonito.
Uma das suas ideias, até hoje, norteiam meu processo criativo de escrever: o
ponto de partida de qualquer estudo sobre a realidade é o sujeito, ou seja, a
história está em função das suas necessidades, sentimentos, valores e ações.
Desta forma, a realidade é passível de interpretação, que só pode sê-lo a partir
deste ponto de vista.
O meu primeiro trabalho como escritora foi a Dissertação de Mestrado,
que teve o crivo de uma orientadora exigente e ardorosa, no sentido de que
tudo o que eu escrevesse deveria ter sustentação teórica e, somente depois de
construir uma base sólida de pensamento, poderia interpretar. Caso contrário,
cairia no achismo. A pesquisa histórica se tornou, para mim, o ponto de partida
de qualquer trabalho literário, e passei a encontrar na história real as melhores
fontes de inspiração, cujos agentes estão mergulhados em circunstâncias
amplas, multifacetadas, conturbadas e inquietas. O passado é vivo e, assim,
permanece dentro de nós; jamais é ultrapassado.
Para realizar uma pesquisa, enquanto ponto de partida, até de uma
crônica, como esta, é preciso saber compreender a interpretação que os
estudiosos fazem a respeito de um tema específico e sobre os respectivos
fatos decorrentes, é preciso aprender a observar o sujeito, enquanto sujeitado
a toda uma circunstância existencial e que, de alguma forma, faz-se presente
no aqui e agora; o passado está em torno de nós, nos tocando, importunando e
estimulando. É preciso ver os fatos com objetividade para termos condições de
interpretá-los; por ser a realidade tão cheia de faces e vieses, é preciso
submeter-nos a um treinamento de imparcialidade para superar preconceitos,
achismos e ideias esfuziantes ou melancólicas.
Fico, aqui, repetindo, é preciso, é preciso, é preciso porque a elaboração
de um conto, romance, até que seja de um miniconto, requer o princípio da
verossimilhança. Ah, como Ítalo Calvino sabe disso e faz questão de afirmar
que o leitor tem que ter a impressão de que está em cena, ao lado dos personagens; sentindo os mesmos cheiros, as mesmas dores, os mesmos
desejos.
Da mesma forma, somos nós. Estamos mergulhados no real, e nada pode
nos escapar para que possamos entender o que nos está acontecendo e quem
somos exatamente naquela situação. E tudo muda de um momento a outro.
Ah, como o ser humano é um personagem versátil.
E, nós, escritores, transitamos da vida para a literatura e da literatura para
a vida; também precisamos ser mutáveis.
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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