Hoje, o escritor é o abre alas da própria obra

segunda-feira, 04 de fevereiro de 2019

Tenho fases, como a lua.
Fases de andar escondida,
Fases de vir para a rua...

Cecília Meireles

Escrever é uma terapia eficiente. Não se pode dizer que é melhor do que
a que é realizada na presença de um terapeuta em um consultório clínico. A
verdade é que as palavras, vagando dentro do escritor, descortinam seus
espaços de medos e incertezas, de vazios e de sentimentos contraditórios. Aos
poucos, escrevendo textos diversos, ele vai se conhecendo e se
reorganizando.
Nestes tempos, eu, especialmente, tenho me deparado com uma nova
fase da vida de escritora. Não é possível negá-la, muito menos deixar de
enxergá-la, uma vez que tem ganho dimensões em minha vida. É uma fase em
que tenho de deixar as leituras, guardar as ideias e fechar o computador para ir
ao mercado consumidor de livros; realizando pesquisas em universos de
exposição e vendas de livros, negociando com livreiros, coordenadores
escolares e distribuidores. Como também trocar ideias com outros escritores a
respeito deste assunto e ter, acima de tudo, cuidados para valorizar meus
pedaços de escritora.
Hoje, o escritor tem de tornar-se um abre alas da própria obra e sua
bandeira já não são mais os títulos, os personagens ou os temas de livros, mas
os números com cifras. A vida literária, agora, nos exige inteligência emocional.
É. Inteligência emocional para deixar de ser escritor e tornar-se vendedor,
para mostrar e convencer que sua obra não somente pode, como deve ser lida,
como forma de beneficiar a pessoa do leitor, principalmente se for criança ou
adolescente. Esta questão é o motivo da construção desta coluna e foi,
também, o da semana passada. Além de ser mais um desabafo, é um modo
terapêutico de reconstruir minha identidade.
A literatura guarda belezas, saberes e valores, tanto é que a poesia de
Cecília Meireles ilumina esta tese e os respectivos argumentos que, aqui,

apresento. De forma suave e meiga, seus versos me apontam para a
necessidade para pisar em novos terrenos, nos quais, certamente, vou
encontrar boas fontes de água doce. Entretanto, é preciso saber adentrá-los.
Ah, como a literatura salva! Salve Chiquinha Gonzaga!

Ô abre alas!

Ô abre alas que
eu quero passar
Ó abre alas que
eu quero passar

Eu sou da lira
Não posso negar
Eu sou da lira
Não posso negar

Ô abre alas que
eu quero passar
Ó abre alas que
eu quero passar

Rosa de Ouro
É que vai ganhar
Rosa de Ouro
É que vai ganhar

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Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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