O sintoma serve de aviso

quinta-feira, 01 de novembro de 2018

Um sintoma, físico ou mental, é um aviso de que algo está ameaçando o equilíbrio no corpo e/ou na mente. Sintoma é o que uma pessoa relata ao médico como sendo o motivo da consulta, e que não pode ser visto. Por exemplo, dor de cabeça, angústia, cólica menstrual, ardência no estômago, dor nas costas etc.

É possível que você esteja vivendo de uma maneira que esteja esgotante, estressante, e como consequência surgem sintomas. O sintoma é o limite do equilíbrio. Ou seja, o sintoma denuncia que o corpo/mente chegou num ponto máximo de tolerância diante dos agentes estressores. Podemos inverter a frase e dizer que o limite é o sintoma. Em outras palavras, até quando você pode aguentar uma pressão na vida? Qual é o seu limite? Tudo tem um limite. Mesmo Deus chegará a um ponto em breve em que ele dirá que chega de maldade e corrupção e tomará uma atitude já preparada por ele para realizar justiça.

Se você vem vivendo com fatores estressantes por um tempo longo e vai esgotando as energias e os recursos internos, físicos e emocionais, chega um momento em que o corpo-mente diz: “Não aguento mais!” É quando surge a doença. Ela existirá até o momento em que a pessoa começar a mudar seu estilo de vida para melhor. O tratamento (medicamentoso ou cirúrgico) poderá interromper aquele tipo de sintoma, mas se a causa não for tratada, o sintoma voltará, talvez em outro órgão, talvez de uma forma diferente.

Veja o que está sendo estressante demais em sua vida e tome uma atitude para mudar, mesmo que você perca dinheiro, mesmo que alguém fique aborrecido com isto (geralmente quem depende de você de maneira doentia), mesmo que você se sinta só. Há muitas pessoas vivendo em famílias de uma maneira muito injusta para elas. Mas elas acostumaram assim. Assumem responsabilidades que não são delas. Por que fazem isto com elas mesmas? Medo de colocar limites e perder o afeto? Sentem culpa de dizer “não”? Querem controlar o ambiente? Aprenderam com seus pais a forma errada de ajudar e se envolver?

Escreva numa folha de papel uma lista de coisas que você está fazendo em sua vida, no relacionamento com os outros (familiares, colegas de trabalho, amigos, com você mesmo). Exemplo de lista: eu sempre faço compras do supermercado para casa; só eu levo meus parentes ao médico; quando alguém tem algum problema sou eu que é procurado para resolver o assunto; não me permito descansar pois sempre estou envolvido com alguém que me solicita etc.

Depois de preparar a lista, faça outra lista com os tópicos que para você são demais, ou seja, você não aguenta mais assumir pelos outros. Esta é a “lista negra”. Faça outra lista com coisas que você tem assumido, que deveriam ser compartilhadas por outros, mas que ainda dá para levar por um tempo.

Comece, então, a trabalhar com a “lista negra” para evitar praticar o que está ali, o que significa que você não mais assumirá aquilo que é para outra pessoa assumir. Faça isto, custe o que custar. Não discuta com a pessoa. Faça uma cara de “bobo” como se tivesse esquecido, quando cobrarem o que você não fez e que não era para você fazer, e não discuta. Também não volte atrás para fazer a coisa que você já sabe que é para outro fazer. Não precisa dizer para o outro que ele é que tem que fazer. Fique na sua e deixe que cada um assuma o que é de cada um.

Talvez você possa dizer que tem tanta coisa para fazer que não dá para fazer aquilo, sem ter que explicar que está mudando a estratégia. Explicar isto depende da pessoa com quem você estará se relacionando. Há pessoas que terão muita dificuldade para aceitar que você irá mudar. Mas, lembre-se, saúde é sua responsabilidade e o limite é o sintoma. Se você está com sintoma, o limite chegou. Agora é hora de mudar, com ou sem apoio de qualquer pessoa. Vá com calma, mas vá.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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