Colunas
Meu amigo, o dicionário
O dicionário é o amigo que compila palavras, sabe das suas definições, singelezas e particularidades. É o silencioso companheiro de quem escreve, capaz de sugerir os espaços que as palavras podem ocupar no texto e até oferecer dicas para o embelezamento das frases. É um sujeito claro e objetivo; vai direto ao ponto, revelando os diversos significados que uma palavra pode ter.
Certa vez, descobri o dicionário como parceiro. Eu já o conhecia desde os bancos escolares, mas nunca o tinha considerado como tal; era um livro que todos diziam ser necessário a quem escreve e lê; a leitura e a escrita exigem o estudo, muitas vezes exploratórios, das palavras.
Os escritores e leitores são hábeis garimpeiros.
Na casa da vovó, que era tradutora, havia um dicionário enorme e pesado, que ficava ao lado da sua máquina de escrever. Como a via virando as suas páginas com atenção e carinho, eu queria fazer o mesmo, mas era pequena demais para fazê-lo sobre a mesa. Tinha que reunir forças para carregá-lo até o sofá para colocá-lo sobre as pernas. Além do mais, precisava equilibrá-lo para que não caísse no chão. O dicionário era tão grande, que, se caísse, me levava junto.
Na época do colégio, ele me pesava na pasta, e eu tinha que ter uma enorme paciente atenção para ficar virando e virando páginas para achar uma palavra. Quando a achava, tinha que ler e ler seus significados para compreendê-la. Muitas vezes, não entendia e precisava de ajuda.
Com o tempo, minhas relações com o dicionário foram se modificando, e, hoje, considero-o um imprescindível parceiro. Neste processo de redescoberta, passei tempos brincando de investigar palavras. Assim, fui reaprendendo a manuseá-lo e a degustar as palavras, seus significados e seus poderes. Ah! As palavras são forças, capazes de transformar as pessoas e o mundo. Elas têm uma secreta capacidade quando agem no pensamento, oferecendo-nos processos diversos de apreender a vida. São divinas. São lindas pela sua sonoridade, às vezes, tão fortes que ficam como vedetes em nossas ideias. Geralmente, ficam reunidas em frases ou versos, enquanto fragmentos de textos, oferecendo-nos significados tão intensos que chegam a determinar quem somos e nossos modos de fazer.
Hoje, é um prazer utilizá-lo. Já não mais o uso em livro, o mundo virtual nos proporciona vários dicionários de uma só vez, o que nos permite pesquisar, verificar possibilidades de sinônimos e antônimos. Até nos sugerem temas a serem explorados.
Já não consigo mais escrever sem este amigo silencioso, que me diz e revela tantos sentidos. Sem nada cobrar ou exigir.
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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