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Cadê a sensatez?
O amor entre Romeu, filho dos Montecchios, e Julieta, filha dos Capuletos, foi além da mortal inimizade, que se estendia ao mais remoto passado, envolvendo todos os seus parentes, dependentes e servidores das duas ricas famílias de Verona. Se, por ventura, um Montechio se encontrava com um Capuleto em alguma rua da cidade, havia violenta troca de palavras, chegando a ter derramamento de sangue. Os conflitos entre as essas pessoas era o desatino.
Os sentimentos entre Romeu e Julieta tinham a beleza da luz do sol, esplendor. Entretanto, um não podia estar com o outro porque a enfermidade, vinda da diferença entre suas famílias e pontos de vista, poderia se tornar pesarosa. Eles deveriam se manter distantes de modo a evitar a tragédia. Caso todas as barreiras conseguissem superar, e eles pudessem se encontrar, deveria ser às escondidas.
Havia alegre ternura quando as afetivas palavras da pessoa de Julieta eram dirigidas à pessoa de Romeu e vice-versa. Entretanto, eles jamais poderiam ser porta-vozes dos Montecchios e Capuletos. Entre Romeu e Julieta havia ilhas conhecidas e desconhecidas a serem exploradas e aproveitadas. Entre Montecchios e Capuletos havia campos de guerra com inúmeras espadas fincadas no solo. Assim, apenas o afeto seria o segredo que guardariam até a eternidade.
Shakespeare foi brilhantemente sábio ao revelar esta situação que marca a história de povos ao longo do tempo, em todos os espaços geográficos. Nas situações de cisão, as relações pessoais e afetivas ficam, desta forma, tocadas e prejudicadas.
Aqui e neste momento, não pretendo julgar as posições que os brasileiros vivem, mas o afastamento entre as pessoas. Como também penso no comprometimento que podem causar aos processos de construção de identidade e de pensamento das crianças que presenciam expressões emocionalmente radicais por todos os cantos do país. Muitas são impositivas e desrespeitosas.
Estamos vivendo, por certo, um momento ideológico e político; a população não está indiferente, cada um reflete para o seu melhor. Mesmo radical, somos um povo vivo, reativo.
Enfim, todos nós, hoje, somos Romeu e Julieta, como também Montecchios e Capuletos.
Tereza Cristina Malcher Campitelli
Momentos Literários
Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.
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