Vou e volto já

sábado, 30 de junho de 2018

Vou ali dar uma volta, mas retorno já. Vou com as minhas poesias embrulhadas debaixo dos braços. Encantadas, deixo esparramadas por onde passei, por onde passo e para onde vou. Salpico de letras os cantos que cantei. No ouvir em cada canto também deixarei poesia por todo canto. 

O amor é quem me conduz. E só há razão em fazer se for por amor. O que não é feito com a intenção do amor é indiferença. Fujo da indiferença, não para ser diferente, mas para ser quem eu sou. Com minhas alegrias e tristezas. Com meus sonhos e desafios. Com minha ansiedade e nostalgia, ainda que seja preciso admitir que cada fato serve a um tempo.

É preciso respeitar o tempo e domar quando permitido. Vou com as minhas vivências que se somam as experiências que quero. É preciso colher no encontro com o mundo e desse encontro se perceber em mim mesmo.

Por mais que eu caminhe, por mais que eu corra, provavelmente não consiga conhecer o mundo inteiro. Mas se eu puder conhecer com intensidade cada pessoa que dou meu tempo, saberei que estou me conectando plenamente com o universo particular de cada abraço.

Vou e volto já, querendo voltar logo. Mas é preciso ir. De peito aberto, sem o medo bobo de se expor, dar a cara para o vento me acariciar com sua leveza ou me atormentar com sua força. Me leva quando me convence, mas não me perturba mesmo quando quer me arrancar. Fico ali. Firme. Convicto de que viver é a melhor maneira de estar vivo e vívido. Sobreviver não me é suficiente. Apenas sobreviver não pode ser pleno. É fundamental querer mais, sem deixar de reconhecer aquilo que se conquistou. 

Muitas vezes olhamos para o que se tem e não percebemos tudo o que foi empreendido de esforço e de abdicação para se chegar lá. Olhar para o final da história é fácil. Difícil é navegar pela jornada que a história escreve dia a dia.

Os campos estão abertos. Convidativos. Estar determinado é mais importante que escolher entre o otimismo e o pessimismo. E a coragem não faz sentido se sua etimologia não for considerada na prática: agir com o coração. 

O coração não é apenas uma máquina de bombear energia pelo corpo. Deve ser o filtro que nos faz escolher. Deve ser o impulso que nos faz ir. E, vou! Querendo voltar. Mas para voltar é preciso ir. Colher novas observações, mas vivenciar o que cada canto diz, inclusive o canto que me faz despertar para adentrar nova era.

Eu quero o ingovernável, o incontrolável desejo de mudar o mundo. Repleto dessa ingenuidade imprudente de quem vai! Se tiver que nadar contra a corrente, que seja não a minha sina, mas satisfação prazerosa de estar no lugar certo da história. Vou, mas volto já! Vou sem querer ir, mas se é preciso ir para voltar logo.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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