Colunas
A dignidade do trabalho
Caros amigos, hoje, 1º de maio, diversos países do mundo comemoram o Dia do Trabalho, mesmo dia em que foi instituído, pelo Papa Pio XII, a Festa de São José Operário.
Em sua labuta diária, José, o carpinteiro de Nazaré, dava testemunho de um homem repleto de virtudes; perfeito exemplo de um trabalhador que compreende a dignidade e a importância do trabalho de suas mãos.
O trabalho constitui uma dimensão fundamental da existência humana sobre a terra. Deus, após criar homem e mulher à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1,27), ordena-lhes submeter a terra (cf. Gn 1,28), tornando-os participantes de sua obra criadora.
A missão de submeter a si a terra e tudo o que ela contém, de governar o mundo na justiça e na santidade implica, em primeiro lugar, o reconhecimento de Deus como o criador de todas as coisas e, por conseguinte, a ordenação de todo trabalho humano à glorificação do nome de Deus por toda a terra (cf. Gaudium et Spes, 34).
A igreja afirma ainda que “os homens e as mulheres que, ao ganhar o sustento para si e suas famílias, de tal modo exercem a própria atividade que prestam conveniente serviço à sociedade, com razão podem considerar que prolongam com o seu trabalho a obra do criador, ajudam os seus irmãos e dão uma contribuição pessoal para a realização dos desígnios de Deus na história” (idem).
Neste sentido, o trabalho humano, “longe de ser desprovido de dignidade, molesto e odioso, é, pelo contrário, uma fonte de alegria, de felicidade e de nobreza” (Fulgens Radiatur, 29). O trabalho não é apenas uma ação que transforma as coisas provendo o sustento do homem e da sociedade; é, antes de mais nada, realização plena do próprio sujeito que executa a ação; através do labor “se aprende muitas coisas, desenvolve as próprias faculdades, sai de si e eleva-se sobre si mesmo. Este desenvolvimento, bem compreendido, vale mais do que os bens externos que se possam conseguir” (Gaudium et spes, 35), fazendo valer assim a sabedoria popular: o trabalho enobrece o homem.
Em contrapartida, a expansão da economia global e a constante luta pelo lucro agrava a competividade e limita o valor do homem e do trabalho à produtividade. Merece destaque as significativas mudanças estratégicas para a ampliação dos lucros dos investidores e os consequentes impactos sobre a classe dos trabalhadores (cf. Visita Pastoral do Papa Francisco a Gênova).
Influenciada pela cultura do materialismo, a sociedade hodierna trata o trabalho humano como uma mercadoria e a pessoa como uma força anônima necessária para a produção. Nesta dinâmica, cresce a necessidade de longas jornadas de trabalho, em detrimento do descanso digno de todo trabalhador, além da precarização do trabalho causada pelo aumento da terceirização, entre tantas outras situações que privam o trabalhador de sua dignidade. É necessário sempre relembrar que o “trabalho é ‘para o homem’ e não o homem ‘para o trabalho’” (Laborem exercens, 6).
Não se pode cair na tentação de julgar o valor e a dignidade do trabalho apenas pelas conquistas materiais e financeiras que ele proporciona. Pois, independentemente da finalidade e objeto do trabalho - de todo e qualquer trabalho - permanece sempre a pessoa como seu sujeito principal.
Concluímos esta reflexão repetindo as palavras do Santo Padre, o Papa Pio XII, ao instituir a Festa de São José Operário, pedindo que o humilde operário de Nazaré, além de encarnar diante de Deus e da Igreja a dignidade do trabalho manual, seja também o providente guardião de todos os trabalhadores e suas famílias.
Dom Edney Gouvêa Mattoso
A Voz do Pastor
Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário