Palavras

segunda-feira, 02 de abril de 2018

“Deixei-o nessa reticência, e fui descalçar as botas, que estavam apertadas. Uma vez aliviado, respirei à larga, e deitei-me a fio comprido, enquanto os pés, e todo eu atrás deles, entrávamos numa relativa bem-aventurança. Então considerei que as botas apertadas são uma das maiores venturas da Terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar.” { Machado de Assis.}

Ultimamente tenho respondido com mais frequência sobre a origem dessa minha paixão (de infância) por escrever. E pela forma como as perguntas chegam, talvez minhas respostas surpreendam. Ou não, não sei. Nasceu em mim, faz parte da minha personalidade, da minha educação familiar, da minha formação escolar. A minha visão de mundo se materializa mais facilmente em palavras, sejam elas reproduzidas em textos, em conversas ou mesmo em pensamentos. Às vezes, acho que até meus pensamentos são estruturados de forma diferente. E rio disso.

Só sei que eu gosto das palavras e por dar atenção a elas desde antes mesmo de saber ler e escrever (sim, pois até os meus desenhos antes de ser alfabetizada imitavam frases e textos), eu foquei meu interesse por esse universo de uma forma especial. E por isso, desde muito jovem, me encantei por Machado de Assis. Seria natural uma menina com 11 anos de idade ficar fascinada com as obras dele? Eu fiquei. E tenho em minha mente alguns lampejos de lembranças de momentos em que eu me debruçava sobre seus textos, mas ao invés de entender o conteúdo das suas histórias, eu me percebia enfocando o seu belo uso da língua portuguesa. As palavras da maneira em que seus textos são escritos atraíam toda a admiração de uma criança. E isso se não for estranho, pode ser fantástico.

Então, juntamente com essa paixão inata que veio ao mundo com meu nascimento, a presença da minha mãe me incentivando, lendo para mim e estudando comigo diariamente, o exemplo do meu pai que sempre foi um homem muito culto e estudioso, as professoras de alfabetização, português e literatura incríveis com quem eu felizmente tive a oportunidade aprender no Externato Santa Ignez, posso dizer que Machado de Assis por meio de sua escrita foi também um instrumento valioso para esse meu “gostar tanto de escrever”.

As palavras têm poder, e eu nunca duvidei disso. Sejam ditas, escritas, lidas ou pensadas. Não subestimemos seu alcance e seu potencial transformador nas relações interpessoais, na educação, na cultura, na arte, na evolução da humanidade. Sabendo disso, nutro diariamente a importância que atribuo a elas, cuidando de expressá-las da melhor e mais gentil maneira.

 Essa semana, a revista Galileu publicou em sua versão online um mapa do mundo que seria representado pelos principais clássicos da literatura de cada país. O Brasil, segundo essa publicação, seria ilustrado pela obra Dom Casmurro, de Machado de Assis. Registro então uma dica de um grande livro que todos os brasileiros deveriam ler, pois é um verdadeiro primor da língua portuguesa.

Trechos da Semana:

“Dizem por aí, mas não tenho certeza, que meu sorriso fica mais feliz quando te vejo, dizem também que meus olhos brilham, dizem também que é amor, mas isso sim é certeza."

“Sim, eu me faço de forte, mas já chorei no meu quarto, em silêncio, a porta fechada, travesseiro no rosto, chorei por dentro, sofri. Mas sabe o que tudo isso resultou; nada, é preciso aprender a crescer, viver, ser ‘gente grande’ e enfrentar os próprios problemas.”

Machado de Assis, em Dom Casmurro

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Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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