Colunas
Exoplaneta
Fora da via-láctea me vem você. De repente. Inesperadamente. Com sorriso farto. Com mistério de quem se revela. E eu vou sorridente sem mostrar os dentes, querendo amanhecer. E anoiteço ao não te conhecer e amanheço ao te ver ali quieto como se inquieto procurasse e achasse o que não exatamente procurava: e eu sou o encontro. Daquilo que não se imagina, mas se sonhava. Do que eu queria e que você quer também. Tão bom quando um quer o mesmo que o outro e se deixam flutuar na surpresa que o destino revela num reencontro de outras vidas, de outras esferas, de outros tempos que fazem o início de tudo se explicar no agora. Exoplaneta que me leva para além da via-láctea, dessa galáxia de nebulosas estrelas. Que me faz iluminado por sua preciosa luz. Já habito nesse solo de poemas costurados a tantas músicas que só astronauta de poesia pode entender.
Chega de cigarros de palha. Todos foram sugados. Chega de construir o imaginário. A imaginação se realiza no olhar que se firma e forma novo mapa. Eu já não sou o que era e descubro ser o que sempre quis. Perplexo, firmo fé no acontecimento que não acreditava. Amor à primeira vista existe. Me doo. Me dou. Vou... Voando ao infinito que se firma na trilha das estrelas do encontro de nossas mãos. Me dá lágrimas felizes nos olhos de quem quer dizer o que me faz ouvir. Porque agora eu sei.
Te dou a pulseira que a bruxa me disse ter que dar três nós. Te revelei o laço da saúde e da paz. O terceiro guardei comigo para que eu mesmo possa te dar. O amor é esse inesperado que surge sem se prever. No lugar que Benito fez da cabrocha uma música é o mesmo que me vesti de versos da canção que seu sorriso compôs para o meu nascer. Não reivindico nada, além do seu abraço que me faz satélite de seu planeta como a lua se faz para a Terra. Mas não há céu entre nós, pois somos o mesmo céu.
Eu quero ficar preso nesse tempo. Eu quero me abrigar nesse olhar cadente. Eu queria que o tempo paralisasse agora. Nesse repouso de toda inquietação. Porque é puro. É forte. É intenso. É vestido de ingenuidade sagaz. É despido em pluralidade singular. Pois é único. É feliz. É mágica real. É sóbrio, mas ao mesmo tempo tem certa embriaguez que catequiza sem vãs ilusões.
E essa tal necessidade me mobiliza para reconhecer que o amor é fácil, contradizendo as previsões de outrora. Derrubei a crença no platônico ao ser visitado por esse amor real. Tão fácil amar e ser amado. Tão seu para ser meu também. Tão meu para ser seu ao todo. Completo, mesmo nos segundos sem sua presença, ao ponto de querer viajar na velocidade da luz para chegar a hora de te ver de novo. Não consigo mais me acostumar com os espaços sem você. No físico e no sobrenatural - preciso de você. Transcende o toque. Extrapola todo mistério da existência. É na noite escura que sua respiração me visita e me sinto seguro até na lembrança da sua voz. Deixo de escrever só para a inspiração que me causa ditar e preencher as linhas do caderno das horas.
Eu que era cometa quis aterrissar quando vi a beleza de seu planeta. Pousei. Eu, enquanto estrela, quis brilhar mais do que as luas que te orbitam para chamar a sua atenção. Sol. Eu intensidade na sua imensidão que me faz feliz como sempre pensei, mas jamais consegui imaginar como era. Nós. É bom! É fantástico. É surreal. Ouço Guimarães Rosa dizer que amor é a gente querendo achar o que é da gente. Pois eu achei. Num Exoplaneta que viajei e se moveu até mim.
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário