Colunas
Adeus ano velho! Feliz ano novo!
Talvez eu não tenha sido tudo aquilo que planejei, talvez eu não tenha me tornado a pessoa que vislumbrei quando tudo isso começou. Essa condição pode me fazer um pouco menos feliz ou um tanto mais infeliz. Mas quando tudo termina para recomeçar (tudo acaba para começar de novo de uma maneira ou de outra) o que mais me intriga, ao mesmo tempo que me deixa satisfeito e esperançoso, é que estou bem com tudo o que vivi e me tornei.
Os sonhos sempre são bons, mas muitas das vezes o que nos tornamos sem ter imaginado é melhor ainda. As notas da música podem ser melhores do que aquelas que ouvimos só dentro de nós mesmos. Porque as músicas passam a fazer sentido quando as dividimos com o mundo. É assim também com as pinturas, com as poesias, com as conversas que temos com os anjos e que por um motivo inexplicável resolvemos compartilhá-las com os outros. Ninguém precisa acreditar em você, mas você precisa acreditar no que faz, no que ouve e no que diz.
Eu gostaria de saber o que serei ou o que estarei fazendo no fim do ano. Já me imaginei nesse dia rindo de toda essa profecia que fazem e fazemos. Já me vi no meio do fim de tudo com um bichinho de pelúcia no sovaco e de mãos dadas com todos que convidei para serem amados por mim. Todos cantando em volta de uma linda e pacífica fogueira capaz de iluminar toda a cidade. Mas tenho cultivado mesmo é o aprendizado a gostar mesmo desse instante que tenho agora. É nesse agora que trago o futuro e é esse agora que me dá a possibilidade de relembrar.
Disse e digo adeus sem querer me despedir. Não há adeus que seja feliz, mas todo adeus é divino e deve ser respeitado. Sou pequeno demais para decidir acerca do destino daquilo que não sou dono. Não sou proprietário do tempo, não sou mestre da vida, não sou capitão da morte. Apenas vivo e aproveito o quanto de vida existe ao meu redor.
É triste ver que o meu redor fica cada vez mais vazio e que meus abraços ficam cada vez mais ávidos por abraços que não existirão mais. Porém, não me foi dado o direito de paralisar, ainda que muitos dias é melhor ficar estático olhando para a ausência do futuro que não virá ao ver recortes de dias que já me escapuliram. Mas as horas seguem e me convocam para olhar para a janela e ver que para além das estrelas anjos me sorriem.
Sorrio de longe, sinto de perto que a vida é mais do que um ano que passa com todas as suas tragédias e milagres e bem mais do que um ano que chega com todas as suas promessas e planos.
Agora sou o que sou, amanhã já não sei. Pode ser que eu alcance o que presumi. Pode ser que eu vá além do que sonhei. Pode ser que eu aterrisse em Marte ou apenas surfe num mar de pequenas demências. Deixa eu sorrir com vontade. Deixa eu chorar com veemência.
E dançarei até a lua cair e se ela não cair, ainda sim continuarei dançando. Medirei meus passos, mas às vezes meus passos serão em falso. Pode ser que os tropeços se coloquem em meu caminho e que pular não seja suficiente. Pode ser que a vida me arme algumas situações difíceis de escapar, então apenas armarei minha barraca no jardim para respirar o gélido ar da madrugada. Talvez meu corpo congele, talvez meu coração se aqueça ou quem sabe minha alma voe. É sempre assim e assim sempre será. Não é exatamente previsível o imprevisível?
Fecho os olhos quando rezo, pulo sete ondas no mar. Na carteira tenho fotos de rostos que enxergo na luz e na escuridão, por onde ando e para onde vou. Tenho fé. Jamais demito a sorte. Quero todos os meus lados repletos, quero minhas mãos cheias de mãos, meus abraços cheios de abraços. Sinto saudade de alguns dias que se foram rápido, aprendi com horas que tive o desgosto de ter. Sinto falta de quem já não me empresta seu olhar e não me permito esquecer certos sorrisos. Alguns sorrisos são eternos e não se apagam jamais.
Sempre me pergunto o que faria no meu lugar e tento no exemplo estabelecer conselhos para mim mesmo. Se consigo? Não sei... Suspeito que todos tem suas histórias e passam pelas mais diversas situações que as fazem ser como são. A elas, o melhor que posso dar, é minha generosidade.
As horas e os minutos voam e não conto os segundos. O mundo gira sem que eu perceba. Se não fosse o tempo lá fora... Queria chegar a 2150. Não sei se sequer dobrarei a esquina do amanhã.
Os planos nem sempre saem como imaginamos. Não somos condenados a sermos exatamente o que vislumbramos. Talvez eu me leve. Pode ser que a surpresa me carregue. Pode ser que o tempo me varra. O que vai ser depois? Depois do agora talvez eu pense nisso...
Por enquanto apenas digo: adeus ano velho! Feliz ano novo!
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.
Deixe o seu comentário