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Desabafo de um brasileiro descrente
Desabafo de um brasileiro descrente
Que saudades eu tenho dos vários meses que morei na Europa, desde 2011. Como sinto não poder residir lá fora até o final dos meus dias. Como ser brasileiro me pesa no corpo e na alma, me deixando num estado de torpor e desânimo que só não me fazem sucumbir, porque a certeza de muito a realizar ainda me dá lampejos de esperança. Não a esperança de que o Brasil encontre seu rumo, pois isso é humanamente e mesmo espiritualmente, impossível; mas a esperança de poder me afastar do malfadado “Ordem e Progresso”, do verde que lembra as matas, do amarelo que lembra o ouro e dessas imbecilidades com que os marqueteiros, ao longo desses anos, enganaram o povo brasileiro. Isso sem citar a velha marchinha dos anos 70 que dizia “este é um país que vai prá frente”. Só se for para frente do precipício.
Ano que vem temos eleições para o Executivo e para o Legislativo, mas vejam bem, com esses poderes mais sujos do que pau de galinheiro, votar-se-á em quem? Que lástima ver que, segundo pesquisas (confiáveis ou não), Luís Inácio tem intenção de votos suficiente para ser eleito. E o que é pior, apoiado por muitos que se dizem cultos e instruídos, exatamente aqueles que, em princípio, não se deixariam levar pela propaganda enganosa. Serão cegos e surdos, sem nenhum senso crítico e análise racional? Acham mesmo que o país dos últimos 14 anos foi uma maravilha? Não que o anterior o fosse e o que o atual o seja.
Mas, e os outros propensos candidatos? Quais propostas e princípios sérios teriam a nos apresentar, senão as mentiras de sempre, como por exemplo o surrado bordão: “Farei tudo pela saúde, pela educação e pela segurança do meu povo”. Ciro Gomes, Marina, Geraldo Alckmin são todos representantes de uma classe política bolorenta e malcheirosa que já deveria ter desaparecido. Sem falar no Bolsonaro, o Trump tupiniquim. Mas, o pior é que não temos lideranças novas, discursos novos, exemplo de vida que motive e dê esperança de que as coisas poderiam ser melhores.
Viver lá fora tem um grande diferencial, pois o que importa é o câmbio; em sendo estrangeiro não existem as preocupações com o nível da classe política, se são corruptos ou não, apesar de que essa praga é universal, mas fora de controle no Brasil. Mas, a qualidade de vida é incomensuravelmente melhor do que aqui. A inflação sempre sob controle, o ir e vir na maioria das vezes não termina em assaltos nem em ferimentos por arma de fogo, nem em mortes. Flanelinhas e malabaristas em sinais, são raros e nunca como risco iminente de assalto como por aqui. O respeito à lei do silêncio mostra um nível de educação e civilidade que nos são desconhecidos. Em suma, um nível cultural que faz a diferença.
Não sofro da síndrome do cachorro vira-lata que foi imortalizada pelo jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues, mas meu senso crítico me mostra que o Brasil não tem mais jeito. Perdemos o bonde da história e não soubemos aproveitar a chance de nos tornarmos um país que respirasse progresso e desenvolvimento, com qualidade de vida de acordo com o que o cidadão que paga impostos, merece.
Um país em que suas autoridades perderam a credibilidade, são despreparadas e corruptas, gera a sensação de impunidade e dá margens aos abusos que vemos disseminar hoje entre a população brasileira. Não se respeita mais nada. Nossos jovens esqueceram de que são eles o futuro do país e não se prepararam para assumir seu papel, como ocorre nos países mais desenvolvidos. Com isso, abriu-se uma lacuna sem precedentes o que deu margem à manutenção do que pior existe na política brasileira.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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