Colunas
Epifanias
Que a criatividade não me envaideça e que a vaidade não me entorpeça. Que toda a inspiração seja fruto das sementes que brotam do meu coração. Faço prece. Se me ouço, a vida também pode me ouvir. Pois o tempo que me vem agora é o único que realmente importa.
O passado é hoje e de repente o futuro também me vem agora. Porque passado, presente e futuro é uma coisa só. Estão em mim e eu sou só agora. Que outro tempo poderia ser? É momento de existir.
Eu adoro a música em que eu espero violino, mas que vem do saxofone. Dizem que eu gosto de me surpreender. E é verdade! Eu amo sofrer contradição. Dançar na chuva de sol é tão bom. Para que esperar?
Eu acho que está todo mundo olhando pra mim. Na festa. Na rua. Em casa. Será que todo mundo está mesmo olhando para mim? Porque até eu estou olhando para mim mesmo. Percebo então que só há importância se somos parte da história de alguém para ter a história da gente mesmo. E a gente se cruza, se desvencilha e a cada momento o amor se apresenta. E se transforma. E nos iguala. E nos pulsa.
Não teria eu o dom de perfilar epifanias, mas me permito flutuar nessas manifestações que vem do divino, ainda que não me façam ser divindade. Talvez a minha frase só terá importância se eu tiver importância. Tolice. Essa é uma idiotice como tudo aquilo que é imposto.
Peço, só peço o direito de ser eu. Respeitar seu direito de ser você. Abandonei o julgamento e me faço vigilante para não ser algoz do perdão. Não tenho e ninguém tem o poder de perdoar. Expulsem o juiz de mim e não deem martelo ou apito a ninguém. Afirmar a vida é melhor que negá-la. Mas as armadilhas do mundo se colocam a todo instante no caminho a fim de que embruteçamos no arbítrio de absolver ou condenar. Aos outros, aos nossos atos, a nós mesmos. Extinguir a culpa traz a leveza que jamais trará caçar culpados.
Há um turbilhão de pensamentos soltos no céu de minha cabeça. Perfilam palavras em frases sem artigos. Mas a desconexão delas não impede que eu entenda que espera e procura perdem sentido quando afirmo a vida para firmar pacto de felicidade comigo mesmo.
E a felicidade encontro nos olhos que olho e no sorriso que desperta da surpresa e mesmo na ausência dela. Nessa saudade que canta lembranças e se achegam no agora, acontecendo de novo de maneira diferente. Porque o passado só existe no hoje e agora é que sinto. O amor tem seu jeito próprio e não posso me preocupar se ele evoluirá ou deixará de existir, pois mesmo o futuro não existe a não ser na pretensão do agora.
Nossas contradições nos constroem, enquanto a coragem mora no elo do medo com a inconsequência. A paixão nos transforma tanto quanto estar aberto à liberdade de se entregar. Esquecer o engano e dar a ele o sentido de aprendizado nos concede a dádiva de ser leve. Eu posso voar... São essas as epifanias que tenho por hora, sem qualquer prejuízo se eu deixar o texto sem terminar...
Wanderson Nogueira
Observatório
Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.
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