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Quatro perfil de escola - A escola permissiva (Parte 2)
Esta escola é o oposto da controladora. Assim como existem escolas com um perfil permissivo, existem famílias com esse mesmo perfil. A principal característica é a de permitir que alunos e filhos façam o que eles quiserem.
Nas escolas, a primeira permissividade é a liberdade para assistir à aula que interessa. Muitas não conseguem pensar que existe legislação de ensino exigindo, pelo menos, setenta e cinco por cento de presença por parte dos educandos. Estando presentes quando querem, chegam a qualquer hora e saem a qualquer hora. O processo da permissividade fere à ética da comunidade de que fala Edgar Morin no livro “Meus Demônios”. Muitos são prejudicados pelo barulho, pela movimentação e pelas perguntas que surgem porque não há acompanhamento e, muito menos, comprometimento. Desperdiça-se o tempo como um verdadeiro crime social, dado que em muitos países não há escola para todos.
Nas casas a mesma coisa. A permissividade não se opõe às roupas jogadas por todas as partes, à toalha molhada deixada em cima da cama e às placas de lama no tapete da sala já que se entrou em casa com os tênis cheios de lama do último jogo com os colegas. Alguém vai limpar. Se a mãe limpa, em pouco tempo estará estafada e precisando recuperar-se. Se for a empregada, em pouco tempo ela irá embora pelo excesso de trabalho.
Nas escolas a permissividade deixa os papéis jogados pelos cantos, os quadros de giz emporcalhados, as carteiras rabiscadas e, também, alguém deverá limpar. Se a escola é pública, mais sujeira significa mais gasto de material comprado com o dinheiro público. Se a escola for particular, os funcionários terão de trabalhar mais que o necessário. Nos dois casos houve deseducação porque, mesmo pagando a mensalidade de uma escola, paga-se para estudar, não para sujá-la.
Mas existem justificativas para tais situações. A maioria dos permissivos assim age porque julgam que a vida é muito sofrida e, se o futuro vai trazer sofrimento, é melhor aproveitar a vida agora.
Não percebem que estão educando os filhos como se fossem órfãos de pais vivos e que esse abandono é pior em relação ao futuro que a limpeza que poderiam fazer.
A melhor preparação para uma vida segura e feliz no futuro é fazer, agora, o que cada um pode dar conta. Arrumar a cama, deixar as vestes no lugar, recolher sapatos e brinquedos deveria ser uma coisa normal numa casa onde há educação. Nas escolas a mesma coisa: carteiras, livros, papéis e tudo o que o aluno ou aluna pode fazer para o ambiente ser mais agradável e higiênico deve ser incentivado.
Quem age, na escola e na família, como permissivo, está educando para o sofrimento futuro e, não, para a felicidade e segurança; para a solidariedade e cidadania.
Então, quando uma família procura uma escola terá de ajustar os “ponteiros” para saber como a escola age. Se a família não tem um perfil permissivo, a matrícula numa escola dessas atrapalhará a educação. Se a permissividade é comum à escola e família desenvolve-se a deseducação de modo potencializado.
À escola cabe também educar e, se necessário, promover a reeducação da família, através de reuniões e debates.
Quando essa sintonia estiver desfeita o aluno terá grandes dificuldades de agir na sociedade por não saber discernir entre a educação e a deseducação.
O melhor não está em proibir ou permitir. A melhor coisa é atribuir responsabilidades compatíveis com a idade, mostrar os valores dessas atribuições e cumprir o que foi estabelecido.
Estava em Caçapava do Sul, relembrando Maestro Juan, Ercília Luiz, Lorena, Márcia Miolo.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
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