A estrutura das academias e a liberdade para aprender

quarta-feira, 02 de agosto de 2017

Nem solucionamos os problemas de aprendizagem no ensino superior e nem superamos as deficiências do uso de uma ferramenta antiga, lápis e papel e nos deparamos com as possíveis revoluções dos tablets.

A sociedade organizada, sobretudo a industrial, engessou a universidade, estruturou cursos, definiu programas e a formação profissional, inclusive para lá se trabalhar.

O problema da sociedade pós-industrial é outro: enquanto na anterior a produção de bens era marcadamente material, nesta, eles são imateriais. Há um choque entre essas sociedades e ele reflete-se dentro das universidades e está chegando aos colégios de ensino básico, médio e técnico.

Parece-nos que as escolas, com as estruturas de hoje, não darão conta para ensinar a tanta gente, recuperando o atraso de décadas. Nesta sociedade pós-industrial convivemos com a autonomia universitária e, ao mesmo tempo com a irresponsabilidade e o descompromisso de docentes e discentes. Há quem lá esteja sem desejar nada além do diploma e quem usufrua de uma estabilidade e cumpre mal as suas obrigações docentes, a não ser a do desempenho impecável da capacidade de reprovar em grande escala.

É nesse meio que surgem experiências variadas no tempo e no espaço sobre a liberdade para aprender e a ferramenta que se apresenta como adequada a esses tempos é o tablet.

Já dizia há alguns anos o sociólogo italiano Domenico de Masi que o cérebro era feito para aprender e que a massa encefálica de Lucy, a australopiteca afarensi, com seus quatro milhões de anos e estatura inferior a um metro conseguiu sobreviver apesar de um cérebro de 450g. Hoje exibimos uma massa encefálica com peso superior a um quilo e meio, dispomos de ferramentas potentes que permitem aprender mais depressa e vão surgindo pessoas com vontade de aprender sem estar interessados em diplomas e reconhecimentos acadêmicos. Desejam uma prática profissional eficiente e qualificada.

Essas pessoas ou suas famílias não suportam a mediocridade de algumas escolas ou universidades e começam a buscar alternativas que já esbarram nas estruturas legais em busca de um ensino eficiente e eficaz.

Marcos Meyer, um excelente palestrante residente no Paraná, em recente conferência proferida em Atibaia contou-nos que uma empresa levou para o interior da Etiópia alguns tablets sustentados com baterias solares. Distribuiu-os às crianças e a um adulto ensinaram como carregar as baterias. Nada mais fizeram. Em poucos minutos alguns tablets estavam ligados, os controles embutidos naquelas ferramentas permitiam um acompanhamento de todos os fatos novos e foi assim que descobriram que as crianças compartilhavam, imediatamente, qualquer descoberta feita. Em semanas uma criança daquela aldeia escreveu a palavra “lyon”. Começava a alfabetização. O mesmo fenômeno foi observado na Índia quando uma empresa instalou computadores em seus muros para que qualquer pessoa os utilizasse. As crianças foram as mais curiosas, em pouco tempo aprenderam tudo o que se relacionava aos programas instalados e o compartilhamento foi semelhante àquele constatado na Etiópia.

O que muitos alunos não conseguem aprender na escola ou universidade, em pouco tempo entendem através dos vídeos do indiano Salman pela internet.

Como se vê, o aprendizado na sociedade pós-industrial está trilhando outra configuração, onde a liberdade para aprender favorece a quem tem, de fato, interesse em progredir e crescer intelectualmente.

Tais fatos podem servir para uma reflexão mais aprofundada, sobretudo de nossas universidades, dado que, na escola básica, a criança necessita de aprendizado para a convivência, ao lado dos demais conhecimentos intelectuais.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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