Colunas
Um pedagogo itinerante
Aguardo uma condução, em plena tarde, no aeroporto de Campina Grande, na Paraíba, para seguir até Monteiro, onde terei um evento com 800 educadores durante todo o dia da próxima segunda-feira.
Parece um evento simples, porém, não o é, porque o contexto das atividades exigirá do pedagogo praticamente 40 dias de atividades em vários estados do Brasil e 40 mil quilômetros para atender a todas as solicitações. Trata-se de uma volta ao redor da Terra, sobre a linha do equador. Inédito tanto quanto um trecho que fiz de carro pela estrada do Feijão, na Bahia, onde o motorista conseguiu dirigir a uma velocidade que atingiu os 200 quilômetros por hora para que chegasse a tempo ao aeroporto de Salvador.
Nem a vida do magistério regular nas universidades e colégios exigiu-me tanto. Resultado das preocupações de dirigentes municipais, diretores de sistemas de ensino e universidades para começar o ano letivo com ânimo novo, na tentativa de melhorar a educação brasileira.
Foi uma experiência que se somou às demais pela variedade. Conheci um município onde o prefeito teve de “importar” a secretária de educação para garantir a exigência do cumprimento dos horários de contrato de trabalho. Lá, a experiência mostrava um dos piores Idebs do Brasil e o costume era um trabalho nas escolas que mal conseguia chegar a uma hora por dia. Era a terra do velho ditado: “Se você finge que paga, eu finjo que trabalho”. O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) constatou, não há dúvida, a catástrofe e o desperdício do dinheiro público. Hoje, tudo está a caminho da regularidade.
Em outra cidade constatei a fome de aprender, onde a plateia, em silêncio, bebia as palavras, assistia aos filmes de curta metragem e partiam para questões pertinentes à educação, sobretudo àquelas ligadas ao modo como um aluno aprende.
Sistemas de ensino particular, produtores de material didático, por outro lado, preocupados com a ética do fazer pedagógico, atentos às mazelas que podem contaminar os mais variados corpos docentes.
Assim, entre conferências através de ensino à distância e falando para escolas de todo o Brasil, participando de programas de TV, seja o Bom Dia Paraná, ou o Bom Dia Pernambuco, tive a oportunidade de lançar ideias causadoras de motivação para os professores e insistentes na busca de uma educação de qualidade.
Quase todas as cidades estão preocupadas com duas vertentes radicais: a aprovação automática que, na verdade, não existe na teoria e, a reprovação automática, prática antiga em nossa história educacional. Se a primeira é marcada por falta de ética, a segunda é a estampa mais evidente da falta de competência.
Marco comum entre municípios, escolas particulares, faculdades e sistemas de ensino está a preocupação com o melhor desempenho dos docentes. Mas, pergunta-se, onde estão os gargalos que impedem os avanços? Encontram-se em várias vertentes: a vertente da formação está sendo contornada com parcerias entre faculdades privadas ou públicas, onde o município investe na formação do professor; a vertente das condições de trabalho que reúnem a reforma física das escolas, o material escolar e o transporte escolar já estão praticamente solucionados; a vertente mais grave é a dos salários porque há resistências ainda grandes de alguns gestores para aplicar o piso salarial para os professores.
Soluções parceladas não resolvem porque marcadas pelo estigma cartesiano, onde, solução de uma parte do problema não serve para solucionar o problema como um todo. Exige-se, portanto, uma visão sistêmica por parte dos gestores e, estes, muitas vezes, carecem exatamente dessa formação.
O espaço para um pedagogo agir continua existindo. O espaço para animar e incentivar pessoas a serem melhores está aguardando a palavra de quem a queira distribuir, na simplicidade da comunicação com os docentes. Haja resistência física para suportar os impulsos de tanta motivação de quem se sente, cada vez mais, vocacionado para este trabalho transformador.
Hamilton Werneck
Hamilton Werneck
Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.
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