Como conquistar você?

sexta-feira, 31 de março de 2017

– Bonito seu relógio – disse.

– Gostou? – Passada a noite e quando o sol já se aprontava para clarear, no momento de me despedir, por impulso, tirei o relógio do pulso e coloquei nos seus pulsos. 

– Está louco? Não posso aceitar – disse, como quem não sabe ver as horas nos ponteiros.

– Aceite como lembrança. Se não lembrar do meu beijo, lembrará do quanto posso esperar por você.

Fiz a pergunta. A resposta não veio. Pareceu entalada na garganta ou apenas enlatada no coração. A ausência de resposta pode ser: "descubra". O silêncio talvez configure convite. Talvez não seja nada. Não é certamente ignorada. Porque poderia dizer qualquer verdade ou educação. Mas não responde. Simplesmente, pode ser apenas o silêncio ensurdecedor da solidão do elevador. Quantas vezes perguntamos a nós mesmos e ficamos sem saber. 

Já perguntei tanto e também já inverti a lógica de responder antes de ter pergunta. Já previ reações, tanto quanto me deliciei em arriscar ser eu mesmo sem complicações. Já entendi ter os momentos e admiti ter errado. Errei, sem querer ter perdido de novo. E me perco nas minhas burradas de quem se atrapalha com seus próprios dramas e exageros. 

Mas agora sei. Não dá para ajeitar uma relação se não se acerta consigo mesmo antes. Resolvi esperar. Acerta os ponteiros de seu relógio que atraso o meu ou adianto quando despertar. Mas o que é esperar? O que se faz da espera? O que se faz na espera? Perguntas sem respostas. Exatamente como fiquei sem resposta para a pergunta direta que fiz sobre como conquistar você. Mas espero. Porque quero. Porque mereço. Porque sei. Simplesmente, eu sei.

O tempo passa por entre meus dedos. Tenho tentado ser amigo do tempo. O tempo não me conhece, mas eu conheço ele. Somos intensos, quanto tento apenas ter ímpeto. E digo que acordei pensando em você. À distância te visito, retribuindo o passeio que fez pelos meus sonhos. Lembro de cada detalhe, e conto em crônicas o dia que te conheci. Eu vi seus olhos, mas viajei no seu sorriso. 

Me abrace assim outra vez... Deixa minha alma se vestir da sua. Deixa minha poesia se carregar de seu sotaque. Deixa seu silêncio me fazer lua. A correnteza desliza sob nossos pés, enquanto não ouso deslizar minhas mãos sobre as suas. Chorei livre e franco comigo mesmo, sorriso farto no olhar de quem descobriu o que quer. Quero você a quem chamo para se divertir com esse dia que já é noite, neste amanhã que será hoje quando formos tanto ontem. 

Como conquistar você? Pergunta piegas de quem na verdade desvia uma paralela para dizer: eu gosto de você e estou disposto a esperar, mesmo sem saber o que é espera ou se faz nela e dela além de pensar em você.

Contradigo Shakespeare. O mundo para para que se conserte o seu coração. Eu paro na rotação ligeira das estrelas e espero. Você chegar de novo rindo do meu talento em te deixar sem graça. Você me resguardando dos olhares alheios que minha felicidade dispensa. Você sendo a inteligência da varanda, enquanto sou a ingenuidade que vence o jogo de tabuleiro, mas perde com convicção na piada de deixar para depois.

Seu pequeno grande coração me pulsa e me vou nele em tempestade serena de quem persegue o caminho do sol. Eu entendo com a compreensão de quem ama e me vigio entre as interpretações do que dimensiona a lupa da paixão. 

Não me venha com a história de que não pode retribuir a expectativa. De onde conclui que há morada para expectativa em meu peito? Estou aqui, na mais real versão de mim. Espero. Porque sei que já te perdi sem nunca ter te ganhado e não quero perder de novo. 

A sua mudez diz tanto. Mas quando fala não entendo, ainda que compreenda. Eu gosto mesmo de você – respondo para mim mesmo.

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Wanderson Nogueira

Wanderson Nogueira

Observatório

Jornalista, cronista, comentarista esportivo, já foi vereador e agora é deputado. Ufa! Com um currículo louvável, o vascaíno Wanderson Nogueira atua com garra no time de A VOZ DA SERRA em Observatório, sua coluna diária.

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