Diferente...

quinta-feira, 16 de março de 2017

Botafogo, meu destino... E que destino, obstinado, talvez até sem destino. Eu destino uma grande parte do meu dia, da minha vida, e faço o preto e o branco se confundirem com a minha história. Sou diferente. Sou Botafogo. Toda a América é um pouco mais Botafogo, encantada com os milhares de corações que fazem o Nilton Santos pulsar a cada jogo. Num só ritmo, de corpo e alma, com espírito de Libertadores. Em cada uma daquelas cadeiras há um escolhido, cantando, vibrando, berrando, socando o ar, cerrando os punhos, passando as mãos na cabeça, acreditando, duvidando, agradecendo ou pedindo aos céus.

Nunca pedimos nada, na verdade. Aceitamos o Botafogo do jeito que ele é, e não mudaríamos nada. Não torcemos, vivemos. Apoiamos, criticamos sim, é verdade, porque quem ama cuida. Quem ama deseja o melhor, ainda que nem sempre esse melhor seja compreensível para um simples ser humano. Mas o botafoguense não é simples, e sim complexo, completo. Completamente louco, apaixonado, sonhador. Eu sonho, todos sonham. Podemos sonhar. Por que não?

Sonhei com uma grande vitória sobre o Estudiantes, tranquila e com grandes atuações de Camilo e Montillo. Gatito nem trabalharia, e Joel Carli apareceria apenas para escolher o lado do campo no cara ou coroa. Acordei no estádio Nilton Santos, com uma festa espetacular da torcida e dificuldades em campo. Mas entre o sonho da facilidade e a realidade de Libertadores existiam mais de 30 mil pessoas dispostas a jogar junto com os 11 em campo, demais relacionados e comissão técnica. Dispostas a ganhar o jogo no grito e nas palmas, no estender das faixas, no bailar das camisas. No sempre emocionante cantar do hino. “Não podes perder, perder pra ninguém”. O Nilton Santos é fogo!

De bicicleta, começamos a construir o caminho para os três primeiros pontos. Roger fez borbulhar um caldeirão que ferve na temperatura da Copa, e “salvou” um primeiro tempo pouco criativo do Botafogo. O time não voltou bem do intervalo, e os argentinos aproveitaram para marcar um gol. Apenas isso. Alguém cala? Não, ninguém cala. O gol apenas inflamou aquela gente que ali estava, apreensiva, confiante, desacreditada. Sabe se lá como, ao certo, pois a mistura de sentimentos torna impossível qualquer definição.

Quando o time não vai tão bem, a torcida compra e faz barulho, dá espetáculo. Ela sempre bancou o clube nos momentos difíceis, e não seria agora que abandonaria. Nunca abandonará. Nunca pedimos nada, mas desta vez sussurramos, baixinho, com um “bem que poderia achar uma bolinha...”. Pode. Esse time do Botafogo pode porque tem espírito, tem alma. Não desiste, não se entrega, honra uma das histórias mais importantes do futebol mundial. Entende o peso da camisa, o tamanho da responsabilidade. E se Deus é conosco, a Estrela Solitária há de brilhar. E brilhou mais uma vez no reflexo do iluminado Pimpão.

Sassá e Guilherme entraram bem, deram velocidade, dinâmica e a variação de jogadas que até então faltavam. Muito pela noite pouco inspirada sim, mas principalmente pelas dificuldades naturais da Libertadores. Mas de verdade... Nesse tipo de competição não se vence “apenas” jogando bem. O Botafogo entendeu isso, e a torcida também. Não se ganha uma Copa com vaias ou futebol bonito, mas sim, com comunhão. E no Nilton Santos há. Não dá vontade de ir embora. E de fato nós não vamos. Sempre quando deixamos o estádio não dizemos adeus, e sim, até breve. Até mais. Até a próxima tarde ou noite. Até o próximo capitulo. Carregamos no peito, emocionados, as imagens que jamais esqueceremos. No corpo a nossa farda, nas mãos o pavilhão, e no coração a vontade de estar sempre ao seu lado. A caminhada continua firme, bela, intensa, difícil. Porém empolgante. Mágica.

Até a próxima semana, amigos alvinegros!

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