Praxis e aprendizagem nas escolas e universidades

terça-feira, 14 de março de 2017

- Última parte

A utilidade do celular durante as aulas

À primeira vista este tema parece absurdo, principalmente numa época em que os professores encontram-se pressionados por alunos aos celulares querendo a todo custo falar e “fofocar” durante as aulas. Quanto mais monótona for a aula, mais as ligações tenderão a aumentar.

Não sendo suficiente a norma escrita das escolas e a autoridade do professor, neste país onde se desenvolveu o conceito de quase tudo proibir, agora alguns governos estaduais resolveram entrar na questão aprovando leis que proíbem o uso do celular em sala de aula.

Proibir os celulares em sala de aula é dizer que o professor não tem autoridade para orientar seu uso nem usá-lo em benefício do ensino. Além disso, essa proibição é a negação das vantagens que a tecnologia digital traz para as quatro paredes da aula, permitindo ao professor ter, em tempo real, informações excelentes para complementar os conteúdos que estão sendo estudados.

Mas, parece não adiantar muito abordar essa questão porque a voz da maioria é que o celular atrapalha.

Neste momento, com a oferta de tantas tecnologias, penso em minha volta à sala de aula, seja para ministrar aulas de geografia no ensino médio, seja de psicologia da educação nos cursos de pedagogia. Penso que seriam aulas excelentes e com grande participação se dispusesse de celulares em classe com acesso à internet. Nas aulas de geografia poderia ter acesso a inúmeros dados, naquele exato momento, sobre a economia, uma determinação legal que afetaria preços de comodities, uma redução no preço do refino do petróleo que afetasse, de imediato, mais um recorde. Receberia informações online sobre a situação bélica do Iraque, os debates entre o presidente eleito do Paraguai e o governo brasileiro sobre os preços da energia de Itaipu. Opiniões de psicólogos e psiquiatras seriam acessadas em muitos sites sobre o comportamento do pai e madrasta da menina Isabela após a queda do sexto andar de um prédio em São Paulo. Opiniões que acenderiam os debates em sala de aula de psicologia da educação, onde muitos educadores em formação estariam se preparando para trabalhar numa escola exatamente como aquela em que Isabela estudava.

Imagino como seriam excelentes as aulas e a participação nas mesmas. Que facilidade, hoje, em comparação com o ontem de nossas classes, sem computadores, sem celulares com uso de banda larga? Como dinamizar uma aula ficou mais fácil!

Mas, se voltasse às mesmas aulas, teria de conviver com o dissabor de uma nova lei que vem proibir o uso de celulares em sala de aula. Olho para a força dessas leis e me sinto um imbecilizado pelos governos que a adotaram, primeiro porque negam a possibilidade do manejo de classe de um professor, segundo porque a lei não considera o aspecto bom da tecnologia. Enfim, só sabem mesmo proibir.

Há algumas outras coisas importantes a considerar? Claro que sim! Custos do uso do celular. Uso do celular para simples conversas fora dos assuntos de classe. Consultas aos Messenger que nada têm a ver com as aulas ministradas. Há que se estabelecer limites, sim! Importante é notar que este limite precisa estar nas mãos da escola e do professor.

Quando os governos se arvoram em querer segurar as calças de todos os cidadãos, podemos estar prestes a ficar nus e em público!

Concluindo afirmo: tecnologia e modernidade, recursos e ferramentas do passado e do presente só têm sentido se estiverem a nosso serviço. Não posso ser um escravo do passado ou da modernidade, preciso saber usar os recursos demonstrando competência, orientar os alunos para que aprendam as culturas que estão inseridas em cada um deles e, portanto, envolvê-los com as novas tecnologias e, por fim, respeitar as pessoas o que corresponde ao aspecto afetivo de toda a competência, dado que não lidamos com pregos, parafusos ou cossinetes e, sim, com pessoas humanas, cada vez mais carentes, até porque as tecnologias são esquecidas de humanidade, o que é um grande erro!

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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