Cenas da vida

segunda-feira, 13 de março de 2017

Entre os povos primitivos, era costume eliminar todos aqueles entre os seus que apresentassem algum defeito físico que os incapacitasse para a vida normal. Todos os que não pudessem cuidar de si e auxiliar o grupo na luta contra os inimigos e na busca por alimentos. Recentemente, na Grécia, pesquisadores encontraram próximo do local onde havia sido uma importante cidade na antiguidade uma grande quantidade de esqueletos de animais e de crianças muito pequenas. A suposição é de que ali se atiravam crianças nascidas com defeitos físicos e, portanto, segundo os conceitos vigentes na época, incapazes para a vida.

Um filme japonês de muitos anos passados, chamado “A balada de Narayama”, mostra como eram os costumes da gente daqueles tempos. O filme conta a história de uma família na qual os dois filhos se defrontam com a difícil decisão de levar sua velha mãe, já incapaz de se cuidar sozinha, para o monte Narayama, como faziam os habitantes da região, e lá deixá-la com água, comida e agasalhos no interior de alguma caverna até que a morte a levasse. A solução de eliminar os que nasciam com incapacidade física para sobreviver ou aqueles que o envelhecimento ou alguma doença os fizessem dependentes também era comum entre populações indígenas brasileiras. 

Mesmo nos dias de hoje, muitos se encontram diante deste terrível dilema moral. Na Europa, já existem países cujas leis permitem que, diante de intenso sofrimento físico para o qual não exista cura, se permita o chamado suicídio assistido, ou a morte piedosa. Após ler num jornal de setembro de 2014 uma notícia de um homem idoso que visitava a esposa num asilo, todas as tardes, e que resolveu pôr fim à sua própria vida e também a da esposa, para livrá-la do sofrimento, o jornalista Vitor Hugo Brandalise decidiu procurar a família para saber mais sobre o caso.  Assim o fez, e conseguiu com ajuda da filha mais velha ter acesso ao pai, Nelson, o qual concordou em falar sobre a história do casal e sobre o grande amor que os unia. Após ouvir sua esposa Neuza  dizer que preferia morrer a continuar aquela vida sofrida e sem esperança de cura e depois que ela em grande depressão não mais falou com ninguém, nem com ele, resolveu pôr fim a sua vida e a dela, já que não conseguia pensar em viver sem ela. Fabricou uma bomba caseira e numa visita explodiu a mesma entre os corpos dos dois. Ela morreu e ele sobreviveu. Salvo depois de cirurgias e internação em hospital, acabou condenado por homicídio, ao qual responde em liberdade. O título do livro é O último abraço. Pela Editora Record custa R$ 32.

TAGS:
Dr. Norberto Louback Rocha

Dr. Norberto Louback Rocha

A Saúde da Mulher

O ginecologista e obstetra Norberto Rocha assina a coluna A Saúde da Mulher, publicada às terças no A VOZ DA SERRA. Nela, o médico trabalha principalmente a cultura de prevenção contra os males que atingem as mulheres.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.