Nem sempre nossas escolhas são acertadas

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Não vou discutir a morte do ministro Teori Zavascky no âmbito da teoria da conspiração e levantar hipóteses de atentado. Lógico que essa é a primeira impressão que surge, quando se trata da morte de uma pessoa envolvida em algum acontecimento de destaque, na vida nacional. Assim foi com o desaparecimento súbito de Juscelino Kubistscheck, Jango Goulart, Castelo Branco entre outros. Claro que o relator da Lava-jato tinha vários interessados em sua morte e, talvez, muitos tenham pensado numa maneira de se livrarem dele.

O aspecto que me chama a atenção recai sobre a escolha que ele fez no dia de seu desaparecimento. Porque Paraty e porque um voo num avião de pequeno porte em detrimento a uma viagem numa companhia aérea comercial?  A cidade de Paraty tem, na realidade, um campo de pouso, não podendo ser chamado de aeroporto, pois não conta com uma torre de controle, não dispõe de informações meteorológicas e só opera no visual. Isso quer dizer que o piloto precisa vislumbrar a pista a cinco quilômetros de distância e, ao mesmo tempo, ter pelo menos 450 metros de teto (a visibilidade vertical, ou altura máxima acima do nível do mar).

Pelas regras da aviação brasileira, se esses dois fatores não estiverem presentes, o piloto da aeronave tem de procurar um local alternativo ou retornar ao ponto de origem. O campo de pouso mais próximo à queda do bimotor em que viajava o ministro do STF, é o de Angra dos Reis, mas com as mesmas limitações do de Paraty.

A meteorologia nos últimos dias 18 e 19 (dia do acidente) previa chuvas com nuvens carregadas; esse quadro, naquela região em que predomina uma curta extensão de terra espremida entre o mar e as montanhas, vem invariavelmente acompanhada de má visibilidade. Outro problema é que lá existe uma instabilidade muito grande, sujeita a alterações, em fração de minutos. Como cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, eu jamais teria optado por essa rota, embora mais curta.

Por outro lado, a ponte aérea Rio-São Paulo, com partida de Congonhas ou Guarulhos implicaria numa viagem de carro do Rio até Paraty, mais extensa, mas sem os riscos de se pousar em locais inseguros.

A região em que ocorreu o acidente que vitimou Teori Zavascky assistiu à morte do deputado Ulisses Guimarães, num acidente de helicóptero, também com tempo chuvoso, numa atitude intempestiva de Ulisses, que insistiu em partir apesar das condições climáticas adversas e dos apelos de sua mulher e de amigos. Eles insistiam para que esperasse a chuva diminuir e a névoa melhorar. Ano passado um outro bimotor, vindo do Campo de Marte, em São Paulo, caiu na mata, devido à má visibilidade causada pelo mesmo problema.

Infelizmente, as preces daqueles envolvidos na Lava-Jato foram atendidas, o seu relator perdeu a vida num acidente aéreo e o Brasil sofre, com esse revés, o risco de ver a maior operação de combate à corrupção ser desvirtuada. Não faltam, entre os ministros do STF, aqueles que defendem o lulopetismo e seus métodos nada ortodoxos de fazer política, assim como, de uma maneira ou de outra, estiveram fortemente ligados ao PT.

Isso se torna escancarado quando Ricardo Lewandowski, ao decidir pela interrupção do mandato da presidente Dilma, contrariando acintosamente a constituição brasileira, não suspendeu os seus direitos políticos pelos próximos dez anos.

Portanto, autoridades de expressão na vida nacional cuja atuação tem ligação estrita com os destinos do país, deveriam ser mais cautelosas e serem assessoradas na hora de tomarem decisões que podem ter consequências desastrosas para a nação. Perde-se um ministro com um invejável conhecimento jurídico, que se mostrou ponderado e sábio quando foi necessário, mas que jamais titubeou ao tomar decisões. Que o seu substituto na relatoria da Lava-Jato, siga os seus princípios e tome decisões tanto na vida pública como na particular que não ponham em risco a integridade do Brasil nem a sua própria.

TAGS:

Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.