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Rio de Janeiro, sempre na vanguarda dos acontecimentos
Seria piada se não fosse sério, o estado do Rio de Janeiro, sempre na vanguarda dos acontecimentos do país e, quiçá do mundo, sai disparado na frente: é o único estado brasileiro a ter dois ex-governadores recolhidos ao xadrez, no espaço de 24 horas. Edificante para o cidadão e, principalmente, para os nossos jovens, onde a figura do governante, da autoridade, deveria ser um exemplo para todos.
De um lado Anthony William Matheus de Oliveira (vulgo Garotinho), nos proporcionando cenas ridículas do início ao fim. Começou com uma crise de hipertensão arterial, ainda nas dependências da Polícia Federal, que o levou para o hospital (público) Souza Aguiar. Acontece que o juiz Glaucenir Silva do Oliveira, de Campos dos Goytacazes, suspeitou de todo o quadro e, baseado em laudos médicos não conclusivos, além das possíveis regalias dispensadas ao paciente, determinou sua transferência para o complexo penitenciário de Bangu. Aí tem início cenas dignas das novelas da Globo. Ao saber que seria transferido, o moribundo ganhou ares de super-homem e, infartado ou não, resistiu bravamente, sendo necessários dez homens para colocá-lo na ambulância. Depois ainda falam mal do tratamento ministrado pelos hospitais públicos.
Como pano de fundo os gritos de sua filha, a deputada estadual Clarissa Garotinho, que bradava a plenos pulmões: “meu pai não é bandido”. Que injustiça, prenderem um inocente, um cidadão acusado pela polícia injustamente, como se a PF, nos tempos de lava-jato, só perseguisse as pessoas de bem. Compra de votos, a acusação que lhe é imputada, é crime e como tal merece cadeia. Aliás, não é a primeira vez que ele lida com tal tipo de acusação.
Para culminar essa verdadeira ópera bufa a juíza Luciana Lóssio (do TSE) determinou sua transferência para um hospital particular e, pasmem, ordenou sua prisão domiciliar após a alta.Tudo isso, após o juiz Glaucenir declarar que tinha sido vítima de duas tentativas de suborno por parte de aliados de Garotinho, para não ordenar sua detenção.
No domingo, 20, o ex-governador foi submetido a uma angioplastia, para a colocação de um stent, com o intuito de melhorar a circulação numa das coronárias. Tanto enfartados como não enfartados podem ser submetidos a esse tipo de intervenção.
Mal a população se recuperava desse episódio deprimente, eis que o protetor dos velhinhos, Sérgio Cabral, também ex-governador desse combalido estado, é detido em casa e encaminhado para a sede da PF, no centro do Rio de Janeiro. Sua prisão se deveu, segundo o juiz Sérgio Moro, em função de chefiar um esquema milionário de corrupção e lavagem de dinheiro.
Segundo a revista Isto É, Moro declarou que constituiria afronta permitir que o investigado persistisse fruindo em liberdade do produto milionário de seus crimes, inclusive com aquisição, mediante condutas de ocultação e dissimulação, de novo patrimônio, parte em bens de luxo...; enquanto isso a população sofre com a debacle financeira do estado, com serviços precários, corte de salários e aumento de tributos.
De acordo com o jornal O Dia, o prejuízo causado por Cabral é estimado em mais de R$ 220 milhões. O Dia informa ainda que o procurador do Ministério Público Federal, coordenador da Lava Jato no Rio, Lauro Coelho Júnior, explicou que a organização criminosa presa pela força-tarefa tinha seu ápice no ex-governador e abaixo dele, Wilson Carlos e Hudson Braga, também presos na última quinta-feira, 17.
"O esquema consistia numa cobrança de mesada feita pelo ex-governador. As licitações eram fraudadas e eram realizados esses pagamentos, que ocorreram entre 2007 e 2014", afirmou o procurador. Da Andrade Gutierrez vinham R$ 350 mil e da Carioca Engenharia R$ 200 mil, no primeiro mandato e R$ 500 mil, no segundo.
Gente, Sérgio Cabral mora no Leblon, um dos bairros mais valorizados da cidade do Rio de Janeiro, tem duas casas no luxuoso condomínio Porto Belo, em Mangaratiba, um local sabidamente de milionários, além de uma lancha ancorada na marina desse local,a Manhattan, no valor de R$ 5 milhões. Mantém ainda um helicóptero, uma coleção de relógios de luxo, além de um colar de pérolas da Cartier.
Será que se trabalhasse na sua profissão de radialista ele seria tão bem sucedido assim? Poderia sim ser conhecido e famoso, se não fosse medíocre, mas milionário jamais. Com certeza não estaria engaiolado.
É contra esse enriquecimento desproporcional de nossos políticos que a população deveria focar nas próximas eleições, principalmente o eleitor do Rio, expert em eleger homens públicos mal intencionados. Vai votar mal assim lá no Rio de Janeiro.
Max Wolosker
Max Wolosker
Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.
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